O Juventude não pode jogar a toalha. A desmobilização precipitada é inadmissível, é covarde.
O vice-presidente de futebol do clube, Osvaldo Pioner, já admite “começar a série B com as contas em dia”.
A resignação não é realismo, mas desespero antecipado.
O Verdão do Sul tem ainda 13 rodadas, 39 pontos a disputar no Brasileirão, sendo seis partidas no Alfredo Jaconi com o apoio fervoroso do caldeirão caxiense.
Se a torcida colorada sonha com o título brasileiro, a 8 pontos do Palmeiras, a torcida do Juventude pode confiar na permanência na Série A, já que dista exatamente 8 pontos do Cuiabá, o primeiro time fora do rebaixamento. É o mesmo quadro, do alto para baixo.
Juventude é grande e não deve jamais pensar pequeno. Para o campeão da Copa do Brasil (1999), única equipe do interior a disputar Libertadores e Sul-Americana, não há o que temer. Desfruta de camisa, tradição e feitos surpreendentes para se inspirar, não é nanico, não está entre os maiores por acidente ou favor.
Acreditar é atrair. Se a direção abandona espiritualmente o campeonato na metade – ainda estamos na metade –, só passará a imagem aos adversários de plantel inofensivo cumprindo a tabela. Será atropelado. Será riscado do mapa. Será menosprezado.
Ainda que o retrospecto não seja favorável – o time se encontra na lanterna com 18 pontos em 25 rodadas, há seis jogos sem vencer na competição –, futebol não é uma ciência exata, tem o Sobrenatural de Almeida (expressão de Nelson Rodrigues) combatendo a arrogância das estatísticas.
Que ele se mire no exemplo do Fluminense em 2009, que tinha 99% de chance de rebaixamento com míseros 18 pontos em 24 jogos. Conseguiu o impossível 1%: seis vitórias e um empate nas sete batalhas que restavam.
É sempre temerário e imprevisível o descenso. A receita da televisão se reduzirá drasticamente. Perde-se a vitrine para contratações. Patrocinadores são capazes de não renovar nos mesmos termos.
A última vez em que isso aconteceu, em 2007, após 13 anos consecutivos na elite, teve efeitos catastróficos. Juventude caiu em seguida para C, e depois para D, quase fechando a tampa do caixão das suas finanças.
Nesta hora, a cicatriz precisa doer para repor o ânimo. O juventudista não pode se esquecer do calvário, do quanto foi penoso, sofrido, assustador emergir de novo. Vejo que é mais em conta se agarrar ao fio da corda atual do que repetir o perigoso rapel de retorno.
Até entendo o que o presidente do Juventude, Walter Dal Zotto Jr., está passando sem enxergar nada pela frente. Mas, como filho de ex-presidente (Walter Humberto Dal Zotto), como gringo, não deve temer a cerração fechada.
Acostumado com esse fenômeno natural na Serra, ele bem sabe que o blecaute é provisório. Como diz o ditado, “cerração baixa, sol que racha”. É dar a vida pela luz que virá. Melhor lutar contra a calculadora do que contra a própria esperança.
Rio Grande do Sul, pelo seu tamanho, prestígio e influência, merece ter três times na Série A em 2023.