Há uma floricultura em Porto Alegre que fica me lembrando de todas as pessoas para quem eu já mandei buquês nos últimos três anos. Do nada, surge uma mensagem no WhatsApp: “Vamos enviar flores de novo para a fulana de tal?”.
A minha sorte é que só enviei para esposa, mãe, filha, irmã e tia, as figuras femininas de família.
Não sofrerei nenhum golpe nos Países Baixos, mas olha o risco desse lembrete em tempos de relacionamentos efêmeros e descartáveis, num período veloz de Tinder e casinhos, numa época em que os laços amorosos não costumam durar mais do que um ano.
Será que ninguém na loja leu Amor Líquido, do sociólogo polonês Zygmunt Bauman?
Você está feliz e tranquilo no namoro recente, vivendo o ápice da paixão e das juras românticas, e a floricultura lhe recorda sua ex. Não é um torpedo, mas um míssil, para arrebentar a sua paz de espírito.
A nostalgia de seu histórico evoca o aniversário dela ou a data comemorativa do antigo namoro. Nem o Facebook é tão constrangedor, mesmo com seus álbuns homenageando amizades rompidas.
A mensagem da floricultura aparece na tela de proteção do seu celular, com imensas probabilidades de ser visualizada pela sua atual companhia.
Como é que você vai escapar da encrenca? Qual será a sua desculpa? Você não está devendo nada e recebe, de repente, uma pendência prescrita, cobrada indevidamente.
“Ah, mandando rosas para a dita cuja?”
O arranjo torna-se coroa de flores em sua cabeça. Caem as pétalas, sobram os espinhos.
Floriculturas não poderiam fazer mala-direta, porque há chances de virar caixão. Em vez de juntar as pessoas, estão produzindo divórcios.
Se alguém mantém filiais no seu romance? Já é custoso escapar da saia justa quando você é fiel e leal, quando não está mentindo, porém, se estiver aprontando ou envolvido com uma amante, a denúncia é atalho para o sofá elétrico de casa.
Floriculturas não deveriam ter cadastro. Não deveriam ter memória de Receita Federal. Deveriam esquecer as nossas ofertas e promessas, os números do nosso cartão de crédito e as palavras escritas no cartãozinho. Deveriam ter a amnésia dos motéis.
Meu amigo Antônio Carlos Macedo, apresentador da Rádio Gaúcha, disse que agora só falta a rede moteleira criar cartão fidelidade.
É uma ideia revolucionária. Depois de dez noites, dez diárias, você ganha uma suíte grátis. Desde que seja sempre com a mesma acompanhante. Ou seja, ninguém conseguirá o abono, acabará sendo um voucher-fantasia.