Você não precisa imaginar que poderia ser com a sua mãe, com a sua esposa, com a sua irmã, com a sua filha. Não há necessidade de nenhuma imagem familiar de apoio para entender a aberração. A realidade grita por si só.
Um anestesista abusava de grávidas durante o parto, enquanto nasciam os seus filhos.
Ele estuprava a mulher inconsciente no ato da maternidade, forçando a felação, profanando um dos momentos mais felizes e puros da vida.
Com uso do avental invertido, aberto para frente, Giovanni, 31 anos, cometia o crime enquanto gestantes passavam por cesárea.
Enquanto elas davam à luz, as trevas estavam ao lado, as sombras malignas.
Maquiavelicamente, ele aguardava a saída dos familiares da sala e dificultava a visão da equipe médica ao criar um biombo lateral de pano que cobria o ângulo do rosto da vítima. E também se utilizava de uma quantidade excessiva de sedação, imprópria para o tipo de procedimento, com o fim de prevenir reações de defesa.
Enfermeiros e técnicos de um hospital em São João de Meriti, na Baixada Fluminense (RJ), desconfiaram do comportamento dele e gravaram um dos procedimentos.
No flagrante, a violência durou 10 minutos, mas seus efeitos serão permanentes pela existência inteira da parturiente e de seu recém-nascido.
Fingindo desinteresse profissional, foi ainda capaz de uma das mais constrangedoras dissimulações. Quando terminou o exercício da sua sordidez, recorreu a um lenço de papel para limpar a boca da vítima e ocultar os seus vestígios.
Não conheço na história da medicina brasileira antecedente criminoso similar tão vil e pervertido no parto. Nunca tinha visto, numa única cena, simultaneamente, traços de misoginia, de frieza, de exibicionismo e de desprezo à condição humana.
Ao contrário de abusos na calada dos consultórios médicos, ele agia em público, no meio dos seus colegas.
Giovanni foi preso em flagrante por estupro de vulnerável na madrugada de segunda-feira (11), pela Delegacia de Atendimento à Mulher de São João de Meriti.
Esse sujeito não pode ter saído do ventre de uma mulher. Não pode ter mãe. Não pode ter namorada. Nem deveria ter existido.
Quando consultamos as suas redes sociais, é impossível notar a ameaça e o perigo. Simpático, vive rindo em selfies e se mostrando grato à profissão.
Além das aparências enganadoras, o que aumentou o meu embrulho no estômago com um segundo nó é que, logo quando o caso veio a público, seu perfil no Instagram (atualmente bloqueado ou indisponível) ganhou imediatamente 11 mil seguidores. O que essa multidão mórbida deseja reverenciando um abusador? Será o fim dos tempos?
Para horror de toda uma ilibada categoria, o serial já atuou, no mínimo, em 10 hospitais públicos e privados. Quantas gestantes, ao longo da carreira, teriam sido vítimas de seu fetiche monstruoso e não ficaram sabendo? É um passado cheio de futuro tenebroso ainda a descobrir, que só causa calafrios.
Não existe nominação para descrevê-lo, a não ser o Anticristo da Anestesia.