Você já encontrou o travesseiro de sua vida?
Não é uma tarefa simples. Conheço uma penca de gente que não localizou a sua alma gêmea para dormir juntinho pelo resto dos dias.
Talvez seja uma das missões mais conturbadas da existência: optar pelo seu par ideal de sono.
A indecisão já tem início no tipo, se deve ser de fibra siliconada, de espuma compacta ou viscoelástica, de látex, de poliuretano, de plumas de ganso. Só para testar esses diferentes materiais, transcorrem três décadas de estudo.
Depois, ainda vem o desafio de definir a quantidade: um, dois, três. Há quem apele para uma trincheira na cama. Há quem seja modesto e se abrace na mais tenra monogamia.
Em seguida, temos que escolher a espessura: fino, grosso, médio. Quando a altura não está bem ajustada, o risco é dormir com a mão debaixo do travesseiro para aumentar alguns centímetros do descanso e despertar com formigamento. Em vez de anestesiar o corpo com o relaxamento noturno, somente terá o braço insensível e fantasmagórico durante o trabalho.
São tantas as variáveis que é comum atravessar a sua biografia inteira com o encosto solteiro, sem match com os carneirinhos, sem o complemento perfeito para a sua mente, apenas seguindo romances equivocados, casos provisórios, rolos, batendo a cabeça nas cabeceiras.
Aquilo que serve para uns não satisfaz outros. É um item absolutamente pessoal.
Tem gente que se vangloria de possuir os travesseiros da Nasa, tece loas de suas expedições lunares ao inconsciente e de quanto sua rotina mudou para melhor, mas os mesmos produtos miraculosos não tiram do chão algumas pessoas. Vá entender!
Por isso, eu admiro quando alguém que encontrou a paz de espírito, o companheiro certo para todas as viagens e deslocamentos, anda na rodoviária ou no aeroporto envaidecido com o travesseiro a tiracolo e fronhas reservas na bagagem. Não admite a insalubridade da insônia em lares emprestados. Pessoas assim estão cientes do grau de dificuldade da procura, de que economizaram fortunas com a dispensa de ansiolíticos.
Um amigo achou o travesseiro dos seus sonhos num hotel em Santa Maria (RS). Não esperava, já tinha desistido dos contos de fadas, da metade da laranja, da redenção romântica, de cantar Fábio Júnior e Fagner no karaokê. E não é que se apaixonou por uma companhia inesperada?
Desceu à recepção, abriu o zíper da carteira, retirou o cartão de crédito e se dispôs a arrematar o travesseiro por qualquer preço. Estava enlouquecido de apego. Não sairia dali sem ele. A gerência do hotel ficou sensibilizada com o amor à primeira dormida e nem quis precificar, ofereceu-o como cortesia.
Como nos importamos excessivamente com o colchão, o travesseiro acaba sendo subestimado, tornando-se um mero complemento da compra, uma decorativa parte do enxoval, e não recebe o status de prioridade que realmente merece.
Pelo desconhecimento de causa, pela falta de informação, herdamos assim enxaquecas que poderiam ser evitadas.