– Negro e ex-aluno de escola pública, o mineiro Arthur Abrantes se forma em Harvard e dedica o diploma ao pai semianalfabeto já falecido.
– Um homem em situação de rua, identificado como Fredson Pereira de Oliveira, 21 anos, devolve três iPhones encontrados na rua aos donos.
– Mulher se oferece para cortar cabelo de sem-teto e se casa com ele dois anos depois.
– Mulher encontra um envelope com dinheiro, uma conta de água e um bilhete em quiosque numa praia de Santos (SP). A mensagem dizia que o dinheiro que sobrasse era para comprar ovos. Ela paga a conta e localiza a autora do bilhete para devolver o troco.
– Empresário lota hemocentro de doadores voluntários para comemorar aniversário, em Vitória (ES).
– Campanha virtual arrecada dinheiro para gari cego concluir curso de Pedagogia.
– A idosa Maria do Socorro de Carvalho Albuquerque, 78 anos, que desde a infância desejava ter uma boneca, teve o sonho realizado pelo neto.
Separei delicadezas de junho, o mês que recém trocamos na folhinha do calendário.
Talvez não tenha visto, talvez essas notícias tenham passado despercebidas em sua vida. Existe realmente uma tendência atual ao boicote do afeto.
Eu reuni os recortes, fiz uma pastinha envolta com o elástico do capricho, para mostrar, com o conjunto, que não representam exemplos isolados no meio da barbárie e da dessensibilização social.
São chamados, são convites para que você faça o mesmo dentro de sua rotina. Para que não se perceba como um alienígena da cordialidade.
Correspondem a promessas de que é possível confiar na empatia.
Empatia não é apenas se colocar no lugar do outro, é poder se distanciar um pouco do egoísmo e assim se olhar com mais admiração e leveza.
Quando você retorna de um ato generoso, de uma gentileza, de uma solidariedade, já se sente uma outra pessoa. Você ri de satisfação por ter se ajudado ao ajudar alguém. A gratidão aumenta a nossa confiança.
Nosso dia não é feito só de tragédias e crimes. Há espaço para a suavidade. Há espaço para o suspiro. Há espaço para o arrepio. Há espaço para a candura. Há espaço para a filantropia dos olhos.
Não devemos temer a esperança, mas convidá-la a tomar um café.
Sapatilhas devolvidas, romance surgido de corte voluntário de cabelo, estudantes superando adversidades financeiras e alcançando os mais prestigiados centros de estudo, pesquisas ressignificando aparelhos de saúde, idosa dando colo para a sua primeira boneca, aniversário comemorado em hemocentro para atrair doadores, adoção do filho da ex que faleceu.
É um despertar da nossa grandeza espiritual a partir de pequenos fatos. Porque não há nada mais criativo do que a bondade.
Minha avó só me abraçava sob uma condição: eu dou se você me devolver.
Eram sempre dois abraços, um de cada parte. A vida, quando vai para o bem, volta melhor ainda.