O pior lugar para torcer é na presidência de um time de futebol. Não existe função mais ingrata. Nas vitórias, não fez mais do que a sua obrigação. Nas derrotas, a culpa é dele.
Ele não pode nem xingar o presidente, porque é o próprio presidente.
Ele não dispõe de privacidade para chorar por um tropeço, precisa demonstrar altivez para reagrupar o vestiário. Lágrimas só são permitidas na vitória, e debaixo do chuveiro.
Ser presidente de um time é a maior solidão do futebol. É atender todo mundo e não se confessar com ninguém.
Qualquer aborrecimento gera incêndios.
Não há como gritar, espernear, ofender, soltar declarações sinceras.
É o cargo de sofredor silencioso, de resiliente, de quem ama tanto o clube que é capaz de se voluntariar para o sacrifício.
Nunca mais recuperará a sua vida pessoal. Nunca mais terá paz. Será reconhecido na rua pelos seus títulos ou fracassos.
O poder faz vilões e heróis.
Ganhará haters, perseguidores, oponentes, adversários. Conhecerá o lado adoecido do fanatismo.
Poderá arruinar o seu casamento. Poderá sacrificar as amizades mais longevas.
Só o presidente enfrenta a situação constrangedora de demitir um diretor que é seu amigo, seu padrinho, seu xará, que foi seu cúmplice na chapa e na elaboração dos projetos da campanha.
Para continuar sobrevivendo até o fim do mandato, amputa o seu braço direito, o seu braço esquerdo. E aprende a abraçar com o olhar.
É do seu ofício dispensar um treinador por quem alimenta a mais profunda admiração, um funcionário que é parceiro de churrasco, um jogador do qual é fã absoluto.
Exige estômago tomar uma série de decisões contrariadas devido ao calor das polêmicas, com o fim de acalmar a torcida ou ganhar tempo para trazê-la de volta.
Aliás, perde-se o estômago nos primeiros meses de gestão, o apetite, a tranquilidade de saborear uma partida no próprio estádio. Jogar em casa é favoritismo certo: ai de ti se empatar. Empate é derrota.
Como relaxar com descomunal expectativa? Como rir com tamanha coerção?
Se ele contesta críticas nas coletivas, é antipático. Se nega entrevistas, é antipático.
Como figura cem por cento pública, não conta mais com o recato de suas dores familiares, não tem como dar socorro aos filhos e colo aos netos. A qualquer momento, alguém pode se lesionar no treino, um atleta pode se sentir em desvantagem salarial com o seu colega, um voo pode ser cancelado, um empresário pode crescer o olho, uma invasão pode gerar multas.
É lidar com inveja, ciúme, frustração, greve, boicote, raiva, diariamente.
Já passaram 55 presidentes pelo Inter e 52 pelo Grêmio. Meu compreensivo respeito pela total abnegação.
O torcedor jamais lembra do lado humano do mandatário, o inferno que é estar no paraíso daquela cadeira.