Quantas vezes o menino Bernardo terá que ser assassinado e enterrado? Não existe fim para o seu suplício? Nunca alcançará o descanso? Não daremos um ponto final para a sua humilhação? Não basta ter procurado ajuda no Fórum, ter gritado socorro até perder a esperança?
Nem quando morto ele é ouvido? Nem no céu está livre da impunidade? Nem quando distante das aparências de família perfeita, acima de qualquer suspeita? Nem depois de sete anos?
Seus rastros de mendicância de afeto seguirão atormentando Três Passos?
Não há consolo? Ele ainda precisa se trancar no caixão para chorar, como fazia no guarda-roupa, por um pouco de privacidade para a sua dor? Ele ainda precisa fingir que está ok levantando o dedo para cima?
A porta permanece fechada para a sua infância? A Justiça e a Verdade nunca se entenderão?
Seu sofrimento sufocado não é suficiente? Sua vida não vivida não é uma prova definitiva?
Porque o que ele enfrentou não se resume a um homicídio frio e covarde.
Todo assassinato de uma criança é latrocínio: o futuro dela foi roubado.
Ele não pôde ser feliz, crescer para se defender, definir uma profissão, escolher os afetos, conhecer a proteção de um lar, ser amado. E agora não conta nem com a paz da memória?
O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJ-RS) divulgou, nessa sexta-feira (10), a anulação do julgamento de um dos réus do menino encontrado enterrado em 14 de abril de 2014, aos 11 anos, após 10 dias desaparecido. O corpo estava em um matagal, dentro de um saco, na localidade de Linha São Francisco, em Frederico Westphalen.
O médico e pai Leandro Boldrini havia sido condenado a 33 anos e oito meses de prisão em regime fechado.
A pena será suspensa e providenciado um novo júri.
A alegação é que o promotor de Justiça não realizava interrogações, mas sim argumentações na ocasião do interrogatório de Leandro.
Deixo aqui as minhas perguntas, já que Bernardo não tem mais como falar. Alguém ainda não acredita nele?