A reportagem que ilustra a capa da edição dos dias 27 e 28 de julho é daqueles conteúdos de excelência produzidos por Zero Hora.
Com uso de inteligência artificial, o repórter Marcel Hartmann, o programador Hermes Wiederkehr e a designer Anna Fernandes relacionaram as realidades sociais e econômicas de 3,89 milhões de estudantes brasileiros (167,4 mil no Estado) que realizaram o último Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) com os resultados que eles obtiveram na prova. E constataram que renda familiar, pais que frequentaram universidades, acesso a computadores em casa são, entre outros fatores, determinantes para o sucesso no exame.
A reportagem também identificou que seis das 10 principais escolas cujos alunos obtiveram melhores desempenhos na prova no Estado estão no Interior.
O trabalho de Marcel, Hermes e Anna é mais um realizado pelo grupo de jornalismo de dados da Redação Integrada. Sob a coordenação do editor digital Marcelo Miranda Becker, repórteres, editores, designers e programadores dedicam-se a contar histórias a partir de milhares de informações complexas. A técnica de investigar dados, comum em redações dos EUA e que ainda engatinha no Brasil, permite ao repórter uma agenda de pautas autônomas, independente das fontes oficiais, comprometida apenas com o interesse do leitor.
É a antítese do jornalismo declaratório que, por vezes, torna a cobertura superficial.
Formado em Ciência da Computação, Hermes mergulhou em um gigantesco arquivo bruto do MEC e, com uso de programação, transformou milhões de dados tabulados e dispersos em informação relevante.
– É um trabalho exaustivo, mas muito gratificante quando se observam todas as informações obtidas – diz Hermes.
A partir dos dados minerados por Hermes, Marcel consultou pesquisadores, professores e estudantes em uma das mais completas investigações jornalísticas sobre o tema em ZH.
– Apresentamos o material a pesquisadores e todos foram unânimes: os dados mostram que a desigualdade social, o racismo e, no caso das mulheres, o machismo, influenciam na nota dos indivíduos. O discurso da meritocracia, sozinho, não dá conta de explicar o sucesso de bons alunos. Quem mora na periferia chega a perder três horas do dia em trânsito, por exemplo, um tempo precioso para quem estuda para o vestibular. O sucesso e o fracasso nunca são apenas do estudante, mas também são explicados pelo contexto em que vivem – diz Marcel, que na última segunda-feira recebeu prêmio no III Concurso de Jornalismo Investigativo sobre HIV e Aids na América Latina e no Caribe, na Cidade do México.
Em Zero Hora, a reportagem ocupa seis páginas do caderno DOC. Eu também recomendo consultar o conteúdo em GaúchaZH, em que é possível conferir o desempenho de 523 escolas públicas e privadas no Estado que tiveram turmas de terceiro ano em 2018.
Nas redações do futuro, repórteres que dominam conceitos de estatística, como média, mediana e desvio padrão, com noção de programação e de linguagem de códigos, trabalharão cada vez mais em parceria com webdesigners e programadores. Em ZH, a sintonia entre Marcel, Hermes e Anna mostra que o futuro já chegou.
