O polêmico discurso do prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, classificando a defesa da ditadura como parte da liberdade de expressão, é um sintoma preocupante de um mal maior: a persistência de ideias autoritárias na sociedade brasileira. Em pleno século XXI, é alarmante constatar que ainda existem pessoas, incluindo parlamentares eleitos pelo voto popular, que enxergam na subversão da democracia uma solução para o país.
A história demonstra que não existe ditadura boa. Seu “canto de sereia” costuma ser cativante: promessas de progresso, ordem, moralidade e justiça. Porém, invariavelmente, o resultado é autoritarismo, repressão, censura, violência política, perseguição a opositores e desrespeito aos direitos fundamentais, incluindo a liberdade de expressão. Não importa o espectro ideológico: à direita ou à esquerda, os efeitos nocivos são os mesmos.
O Brasil experimentou as consequências amargas de uma ditadura militar entre 1964 e 1985. Durante esse período, enfrentamos prisões arbitrárias, torturas, desaparecimentos e assassinatos políticos. Essa realidade sombria é retratada no premiado filme Ainda Estou Aqui, que rendeu a Fernanda Torres o Globo de Ouro de Melhor Atriz. A trama narra a jornada de Eunice Paiva, advogada que se tornou ativista política e defensora dos direitos humanos após o sequestro, tortura e assassinato de seu marido, o deputado cassado Rubens Paiva, em um quartel militar em São Paulo.
Horrores como esse eram encobertos pela censura, que proibia a imprensa de noticiar tudo que não fosse de interesse do regime. As restrições não se limitavam à área política. A proibição chegou a tal ponto que jornalistas foram impedidos de alertar a população sobre um surto de meningite no começo dos anos 1970. Com medo de danos à imagem do país no exterior, o governo proibiu notícias e comentários sobre o assunto.
Tais desmandos não foram exclusividade do Brasil. A história mundial está repleta de abusos arbitrários praticado por ditadores. Por isso, defender regimes antidemocráticos não é apenas um erro, mas um grande retrocesso. É renegar a história, desrespeitar as vítimas e, principalmente, colocar em risco os avanços obtidos com muita luta e sacrifício.
Sei que não é fácil conciliar pensamentos divergentes e conviver harmonicamente com ideias diferentes das nossas. Isso exige um exercício permanente de maturidade e tolerância. O desafio, portanto, não está em renegar a democracia, mas buscar fortalecê-la para que continue a ser um alicerce de liberdade e justiça para todos. Ditadura? Nunca mais!