Tenho fé na nova geração. “Trabalhe enquanto eles dormem” não é mais um conselho seguido pelos jovens. Até pouco tempo atrás eu ainda achava que sucesso era ter o dia todo ocupado. Sinto certa culpa quando paro para descansar. A hora do almoço às vezes parece um luxo. A gente aprende a engolir a comida, preferencialmente lendo um e-mail enquanto leva o garfo à boca. Responder uma mensagem no sábado à noite parecia algo muito importante. Ainda tem quem ache que produtividade é ter reuniões da manhã à noite. Só digo para vocês: como é bom acordar desse delírio coletivo. Muitas vezes a gente precisa de um chacoalhão do corpo para entender isso. Se conseguir sem uma crise de pânico ou algo ainda mais grave, melhor.
Nas redes sociais vemos extratos muito pequenos da vida real dos outros. São alguns segundos ou retratos de viagens, jantares, encontros. Tudo em uma mesma paleta de cores. Tudo bonito, perfeito. Não se deixe enganar. Principalmente, não se permita comparar. A vida fora das redes é complexa, como sabemos.
Nós — imprensa, sociedade, famílias — falamos pouco sobre saúde mental. Há um tabu e um cuidado ao falar de suicídios, mas entendo que quanto mais falamos, com responsabilidade, mais entendemos e evitamos casos de autolesão e, nos mais graves, de pessoas que tiram a própria vida.
O Rio Grande do Sul historicamente tem as maiores taxas de suicídio do Brasil. Isso muito antes de pandemia ou enchente. Em 2023, mais de 1,5 mil pessoas se mataram no Estado, a maioria homens. É devastador pensar na dor de alguém que chegou a este extremo. É desolador pensar na família dessas pessoas. Pais, mães, filhos que precisam lidar com esse vazio.
A depressão não é brincadeira nem frescura. Não se resolve pedindo que a pessoa se anime ou reaja. Não se trata de ter dinheiro, fama, likes ou seguidores. Não é com positividade vazia que levantamos alguém. É uma doença que precisa ser levada a sério e tratada. Quem tem nem sempre acha alguém para conversar, ou tem coragem de contar o que está sentindo ou pensando.
Às vezes achamos que a Gisele Bündchen, sinônimo de beleza e sucesso, não tem motivos para uma depressão. Ou que Nilmar, jogador de futebol com salário milionário, não tinha direito de reclamar de alguma coisa, como se fosse isso. Ou ainda que a atleta multi medalhista Simone Biles não pudesse sofrer. Saúde mental é tema de primeira prioridade, com o perdão da redundância, que considero necessária neste Setembro Amarelo. Preste atenção em si mesmo. Preste atenção no que você está sentindo, e não no que querem que sinta. Você não está sozinho. Procure ajuda. O Centro de Valorização da Vida é um dos caminhos, no telefone 188.