Foi na noite da quarta-feira que passou que senti falta do X pela primeira vez nesses dias sem a rede social no país. Confesso que eu já estava sem acessar há bastante tempo, mas em uma noite de debate presidencial dos Estados Unidos, seria uma bela ocasião para ter a segunda tela à disposição. Muitas vezes o debate alternativo, que é o das as reações do público, é mais divertido que o evento em si. O povo das redes é rápido. Os memes brotam. A criatividade flui. No Instagram não é a mesma coisa porque as postagens não aparecem em ordem cronológica, que seria essencial para a react fazer sentido.
Já vou me corrigir logo, porque na verdade senti falta do Twitter, e não do X. Eu sequer tinha aderido ao novo nome. Sou do tempo do passarinho, de quando compartilhávamos bobagens do dia a dia, ainda sem o ódio que tomou conta das redes pouco tempo depois. No começo era brincadeira, despretensioso. Era que nem o Orkut, em que as comunidades se uniam pelos gostos em comum, não pelas críticas pessoais. Se eu entrasse na comunidade de quem odeia acordar cedo, não vinha a associação dos madrugadores para nos xingar. Eles tinham a própria comunidade e vivíamos em paz, cada um na sua. Se alguém quisesse enviar uma mensagem direta, vinha um depoimento não publicado. Os publicados eram fofos, lembrando cartas carinhosas. Existia amor na internet.
Depois tudo virou Facebook. Antro de mentira, de coisa postada sem apuração, de linchamento público. De receitas que não dão certo, de comentários sobre a aparência de alguém. Ficou cansativo, ficou chato. Até a postagem mais inocente vira polêmica por algum motivo. Os comentários viraram terra de ódio e mais nada. As notícias saíram das timelines e deram espaço às fakenews. O compromisso das plataformas com o público, se um dia existiu de fato, foi rasgado. Ficou tudo no mesmo saco, o joio e o trigo, e ficou mais difícil de separar a olho nu o que é verdade e o que é mentira.
É por isso que as plataformas precisam de responsáveis para responder e o ambiente digital não virar, mais ainda, terra sem lei. Se hoje já é difícil rastrear a origem dos conteúdos, sem representante fica ainda mais perto da impunidade e da escuridão do esgoto da internet. Alexandre de Moraes poderia se preservar mais e não se colocar como alvo a cada decisão que toma, mas acertou quando exigiu providências de Elon Musk sobre o X. Ao mesmo tempo, me incomoda muito que o Brasil tenha banido uma rede social, como fazem os regimes autoritários. A ideologia do dono do novo Twitter misturada ao destaque exagerado de um ministro do Supremo não é boa solução.