Após um dia de comemoração com os pódios de William Lima e Larissa Pimenta, até certo ponto inesperados, o judô brasileiro viveu uma segunda-feira (29) de frustrações e decepções na Arena do Campo de Marte. Daniel Cargnin e Rafaela Silva chegaram a Paris cercados de expectativas e candidatos a deixar a França com uma segunda medalha. Mas ambos sentiram o gosto amargo da frustração. No entanto, em nada muda o que já construíram em suas carreiras.
Com um ciclo complicado e duas cirurgias, Cargnin sentiu os problemas vividos nesse período. Apesar da visível decepção estampada em seu rosto, é possível ter certeza de que será ainda mais forte para Los Angeles, em 2028.
Rafaela, assim como o judoca da Sogipa, tem a obstinação como grande característica. Depois de ter vivido um momento em que até cogitou abandonar a carreira, após os Jogos de Londres, retornou com força e foi campeã mundial e olímpica. Voltou a viver o pior, com um caso de doping que a deixou fora de Tóquio, e retornou para buscar vaga e medalha em Paris.
Aos prantos, ela chegou a pedir desculpas por não ter correspondido às expectativas, na área de entrevistas. Não, Rafaela. Você não precisa provar nada a ninguém.
Jogos da igualdade?
O Comitê Olímpico Internacional (COI) fez a campanha dos Jogos da Igualdade, o que deve ser saudado — mesmo que com um gigantesco atraso. Porém, o número absoluto de homens e mulheres não é igual. Mesmo que o avanço seja grande.
No entanto, há outro tema que me incomodou. Akil Gjakova, que venceu Daniel Cargnin, tem um mandado de prisão em aberto, expedido pela polícia de Kosovo. Ele é acusado de violência doméstica pela esposa. Aí vem a pergunta: como alguém que está nesta situação é protegido pelo país em nome de uma medalha? Mas não são os Jogos em que as mulheres são o foco?
Tem, também, o holandês Steven van de Velde, do vôlei de praia, que ficou mais de um ano preso por agressão sexual a uma menina de 12 anos. O jogador ficou detido 12 meses na Grã-Bretanha, onde aconteceu o fato, e mais um mês em seu país, onde uma mudança na lei o beneficiou e ele não precisou cumprir os quatro anos de pena. E as mulheres, as crianças, o que dizer a elas?
Enfim, o COI é tão zeloso e pede tantas questões pregressas para quem está trabalhando nos Jogos (voluntários e jornalistas), que poderia evitar que pessoas que tenham cometido crimes em seus países pudessem competir.