Uma projeção ou uma comparação são sempre arriscadas. Ainda mais em um esporte de alto rendimento como o tênis, onde nem só o talento vence. Para ser um top é necessário além de uma técnica extraordinária e uma qualidade e precisão incríveis de golpes, um mental muito forte. Afinal, um jogo de tênis que pode durar de uma hora até seis, se considerarmos os grandes torneios, são eventos que exigem dos atletas diversas capacidades, especialmente porque a cada ponto ganho ou perdido, a percepção de vitória ou de derrota aumentam rapidamente.
E como dizer algo de alguém que tem apenas 17 anos, como João Fonseca, um típico jovem entrando na fase final da adolescência. Número 1 do mundo na categoria juvenil em 2023, quando venceu o US Open, o carioca parece pronto para brilhar. Quem o vê em ação logo se impressiona com seus golpes poderosos, com a plasticidade de alguns de seus movimentos em quadra.
Um novo Guga? Um novo número 1? Alguém que será capaz de desafiar jovens um pouco mais experientes como Jannik Sinner e Carlos Alcaraz, que aos poucos começam a dar mostras de que dominarão o circuito nos próximos anos? Essas são algumas das questões que são feitas enquanto se observa Fonseca em quadra.
De minha parte, acredito que se ele mantiver esse nível de jogo e, especialmente, o foco, estamos diante de um novo fenômeno, daqueles que surgem como cometa e que sim, será capaz de responder todas as questões acima de forma afirmativa. Mas apesar desse otimismo, sei que é necessário paciência, dar tempo ao tempo e não cobrar ou exigir desse menino que ele já seja tudo o que se projeta dele. Afinal, João está no circuito profissional há quatro meses.
Mas é inegável que seu talento chama a atenção. Nesta quinta, em Madri, após derrotar o número 70 do mundo, o norte-americano Alex Michelsen, em sua primeira partida de Masters 1000, João fez brilhar os olhos de todos que militam no esporte.
Ex-número 1 do mundo e três vezes campeão de Wimbledon, a primeira delas com apenas 17 anos e 227 dias, o alemão Boris Becker, hoje com 56 anos, foi às redes sociais para comentar a atuação do jovem carioca e exclamou: “Que talento!".
Antes do início da temporada de saibro, a Associação dos Tenistas Profissionais (ATP) fez uma enquete com os principais nomes do circuito e questionou: "Quem você acha que pode surpreender nesta temporada?". E uma resposta chamou atenção. Maior vencedor da história dos Grand Slam e único a ocupar a liderança do ranking por mais de 400 semanas, o sérvio Novak Djokovic disparou: "João Fonseca, o brasileiro. Eu o vi jogar. Ele joga muito bem. Me lembra o meu jogo".
Pouco antes, durante o ATP 500 do Rio de Janeiro, Guga Kuerten também rasgou elogios ao jovem jogador: "É um menino que tem um tênis alegre. A capacidade que tem de gerar velocidade na bola é algo que chama a atenção no mundo todo, vai além da nossa pretensão como brasileiro. É bonito, emocionante, todo mundo sentiu essa vibração", disse o tricampeão de Roland Garros.
Na mesma linha foi o espanhol Carlos Alcaraz, apontado em seu país como sucessor de Rafael Nadal. "Acho que ele tem grande potencial, joga muito bem e bate forte na bola. Eu treinei com ele. Está pronto para jogar alguns ATP e aprender com os melhores. Temos que ter paciência e não colocar muita pressão sobre a necessidade de ele estar entre os jogadores top do ranking, mas acho que ele certamente estará no futuro, pois o seu jogo é muito bom", afirmou o jogador de 20 anos, que já liderou o ranking e que tem no currículo os títulos do US Open e de Wimbledon.
Eu não me sinto capaz de duvidar de Becker, Djokovic, Guga e Alcaraz. E você?