Timbaúba dos Batistas fica a 282 km de Natal e é uma das menos populosas do Rio Grande do Norte. Mas esse pequeno município ganhará o mundo em 26 de julho. Nesta data, em Paris, acontecerá a Cerimônia de Abertura dos Jogos Olímpicos e o desfile dos atletas será em barcos que percorrerão o Rio Sena. Os brasileiros, cerca de 300 em Paris, carregarão a tradição dos bordados do Seridó, região 28 municípios potiguares e outros 26 da Paraíba.
O bordado seridoense é de um estilo típico da região que começou a ser habitada no século XVII e que teve na agropecuária e no plantio da cana de açúcar, seus principais ciclos econômicos. Porém, a secura da caatinga e a crueza dos longos períodos de estiagem sempre foram adversários dos moradores da região.
Em Timbaúba dos Batistas, hoje são cerca de 2,4 mil pessoas que moram na cidade, sendo que mais de 800 são bordadeiras. E são elas as responsáveis pela produção dos uniformes que serão utilizados pelos atletas brasileiros durante a viagem nas Cerimônias de Abertura e Encerramento dos Jogos.
Orgulhosas, elas aguardam a data para que possam se autodenominar “capital do mundo do bordado”, título mais do que justo para uma pequena cidade do Nordeste do Brasil que terá seu trabalho admirado por bilhões de espectadores de todo o mundo.
A ida das bordadeiras do Seridó para Paris acontecerá graças a uma parceria do Instituto Riachuelo. Pelas mãos de mais de 80 dessas mulheres, araras, onças e tucanos estarão estampados nas jaquetas que serão usadas pela delegação brasileira.
Na quarta (17), no Rio de Janeiro, durante o evento promovido pelo Comitê Olímpico do Brasil (COB), que tem a Riachuelo como uma de suas parceiras, este trabalho foi apresentado e admirado pelos 900 convidados que compareceram ao Morro da Urca. Atletas desfilaram com os uniformes, que podem ser considerados peças para colecionador, tal a riqueza de detalhes nos bordados. Nos uniformes são explorados a fauna e a flora do país, e a força da biodiversidade brasileira. E os atletas foram parte dessa construção.
Em março, a campeã pan-americana de ginástica rítmica, Bárbara Domingos, foi até a cidade de Timbaúba dos Batistas para acompanhar o trabalho das bordadeiras da Cooperativa das Mãos Artesanais de Timbaúba dos Batistas (Comart) e, além de testar peças, pode sugerir ajustes. A campeã olímpica Rebeca Andrade é outra que pode provar as jaquetas, saias e camisetas antes da aprovação final.
No Morro da Urca, conversei com a gaúcha Cathyelle Schroeder, diretora de marketing e comunicação da Riachuelo, para saber detalhes sobre a parceria com o COB.
O que representa a parceria, especialmente investir no chamado esporte olímpico?
Temos história com o esporte desde 2020, trabalhamos com a Rebeca desde sempre. O esporte representa a paixão do brasileiro. Nós vemos uma potência no esporte e essas bordadeiras são chave da história que será levada para Paris.
Aceitação dos atletas. São 300 e cada um tem um ajuste, um molde, uma exigência. Como isso foi feito?
Nós fizemos tudo próximo do COB e apresentamos para alguns atletas, como a Rebeca, que fez vários testes nos uniformes. Até exercícios para ver a resistência. A Babi Domingos conheceu os uniformes. Estávamos juntos no Pan em Santiago para conversar, ouvir e aprender com eles. A ideia foi dar conforto e protagonismo para eles na cerimônia. Será uma união da moda, com o Brasil e estamos muito orgulhosos.
A história do artesanato, os bordados nos uniformes, o que eles vão significar?
O artesanato dos uniformes que eles vão carregar conta uma história única. Vamos entregar moda brasileira, que representa nossas cores, flores, fauna, flora. Estamos orgulhosos, esses uniformes contam uma história única. Cada uniforme foi feito artesanalmente por 80 bordadeiras, ou seja, são peças únicas, com detalhes particulares.
Nestes grandes eventos, o COB sempre tem uma grande preocupação com a questão de uniformes, é uma grande logística e inclusive costureiras são levadas para últimos ajustes, etc. Vocês vão estar juntos para isso também ?
Vamos estar em Paris. Temos um time que trabalhou com o COB em Santiago (no Pan) e vamos estar lá para auxiliar nos ajustes necessários para os atletas.
*O repórter viajou a convite do Comitê Olímpico do Brasil.