Nesta quarta (17), o mundo comemora a marca de 100 dias para os Jogos Olímpicos de Paris. A Cerimônia de Abertura, marcada para o Rio Sena, será em 26 de julho, às 14h30min (de Brasília). Delegações de mais de 200 países participarão do maior megaevento esportivo e o Brasil chega com expectativas de bater seus recordes de medalhas, 21 em Tóquio, e de ouros, sete no Rio de Janeiro em 2016 e igual número no Japão em 2021.
O Comitê Olímpico do Brasil (COB) realiza nesta quarta uma cerimônia para marcar a data no Morro da Urca, no Rio de Janeiro, e terá a apresentação da reta final do planejamento para Paris 2024, o anúncio de Embaixadores do Time Brasil e do Programa Vivência (jovens atletas que viajarão para adquirir experiência olímpica visando Los Angeles-2028), o lançamento do livro olímpico do COB, ações do programa Paris é Brasa, dedicado às 20 marcas patrocinadoras da entidade, além do desfile de alguns atletas do Time Brasil.
Em entrevista para a Rádio Gaúcha e GZH, o presidente do COB, Paulo Wanderley, detalhou algumas questões que envolvem a participação brasileira em Paris.
Estamos a 100 dias dos Jogos Olímpicos. O que falta realizar antes do início da competição em Paris?
Nós estamos na reta final. Faltam 100 dias, é hora de sintonia fina. Mas tudo que foi proposto lá atrás está caminhando conforme o planejado. A expectativa é positiva. Já temos equipamentos no mar. Vai por mar, aéreo. Em termos de administração e logística, está tudo encaminhado. Da parte do COB está indo tudo muito bem.
As classificação de atletas está dentro do esperado ou as eliminações de alguns coletivos vai prejudicar o número total de atletas brasileiros?
Certamente isso impacta no quantitativo. O futebol masculino, o basquete feminino e o handebol masculino. Isso impacta no quantitativo. Nós estamos calculando de 270 a 300 atletas. Em Tóquio foram 301. Não deve passar pelo impacto desses três coletivos. Mas não vai impactar na qualidade. Perdemos um bicampeão olímpico, o futebol, mas outras modalidades cresceram e podem substituir em termos de medalha. Tanto faz o número de pessoas, a medalha é a mesma e é uma só. Acreditamos em resultado melhor do que o de Tóquio.
Um dos objetivos do COB é diversificar as modalidades que medalham para ter um crescimento nesses grandes eventos e aumentar o número de praticantes e visibilidade?
Tem as mais frequentadoras (modalidades) de pódio, pelo tempo que estão na estrada e outras que estão chegando. O que traz o praticante, torcedor, são os resultados. O tiro com arco, por exemplo, teve resultados promissores. O Marcus D'Almeida está entre os cinco do mundo, já foi número 1 e isso atrai bastante (praticantes). Em Tóquio foram 13 modalidades com medalhas. Se tivermos 14 modalidades (em Paris), é uma evolução. Mas o que é evolução? Se olhar o número de medalhas, de ouros. Mas tem outras formas de avaliar, como número de modalidades que conquistaram pódio ou estiveram em finais. Se isso aumentar, é uma evolução e isso deve ser considerado também.
O COB projeta mais finalistas, além de mais medalhistas, em Paris, para impactar no projeto de Los Angeles-2028?
Isso é um parâmetro. Se você tiver modalidades que chegam à disputa de medalhas, semifinais, é progresso e ela (modalidade) passa a gerar expectativa para 2028 em Los Angeles. Temos caminhado assim, a cada evento multiesportivo temos evoluído. Olimpíadas, Pan, Jogos Sul-Americanos. Nossa regularidade ascendente está boa. Outro dia conversei com um grupo de judocas e falei que se você entra com foco, vontade de ganhar a medalha, com disposição, ela será consequência.
Os investimentos no ciclo olímpico aumentaram e isso caminha ao lado da cobrança de resultados, de trabalho das confederações. Como é feito?
Em setembro de cada ano, fechamos o orçamento do ano seguinte. As confederações são convidadas a apresentar propostas, com calendário, treino de campo, contratação de pessoal. Em conjunto, nós fazemos ajustes. Damos nossa opinião sobre o que melhor fazer. É um diálogo. E isso é controlado. Na maioria dos eventos em que somos financiadores, temos nossos "olheiros", que são nossos colaboradores que fazem o link da confederação com o COB. Eles fazem relatórios para a área de alto rendimento, de desenvolvimento. Tem que dar resultado. Nós atendemos as necessidades, oferecemos recursos. Claro, para alto rendimento e alta performance, nunca é suficiente. Mas o que depende de otimizarmos recursos estamos fazendo. Ano a ano nosso investimento sobe o percentual. Dos 100% que recebemos de recursos, 86% vai para atividade fim e 14% para atividade meio, que são as nossas estruturas, nosso CT, pessoal operacional. A nossa área de prestação de contas tem 60 pessoas. Não adianta receber recursos e não controlar o repasse. Para ter boa gestão, tem que investir e ter bons funcionários também tem um custo maior.
A participação feminina. Até o momento o Brasil tem mais mulheres classificadas do que homens. É uma tendência e isso é válido para as áreas de atuação e formação do COB?
É uma política que o COB adotou há algum tempo e vem sendo reforçado pelos organismos internacionais do esporte, falando sobre equidade. Oferecemos chances para aprimoramento e participação. Temos que dar oportunidades. Mas não é só o COB. Isso tem que vir também dos clubes, das federações, das confederações. Determinação de lei não vai se conseguir. Tem de convencer as pessoas. Elas precisam sentir a necessidade e se aprimorarem para buscar seu espaço na sociedade como um tudo. Não posso ter, por exigência de lei, homem ou mulher. Existem provas mistas. Tem de estar preparado (a). O número de funcionárias mulheres no COB é muito maior do que homens, é fato. Temos mais mulheres classificadas para os Jogos. Esse patamar vai se igualar. É uma tendência de, a partir desses Jogos termos número equiparado de homens e mulheres nas modalidades. Trabalhamos nesse sentido.
As saídas recentes do Marco Antônio Laporta (vice-presidente do COB) e da Yane Marques (presidente da comissão de atletas do COB) têm impacto futuro? Como o senhor avalia?
É para o futuro isso. Saiu o vice-presidente, aliás primeiro se desligou a presidente da Comissão de Atletas e no dia seguinte o vice. Ambos competentes e com experiência. O Laporta tem uma experiência muito grande, adquirida durante o período de gestão dentro do COB. Aproveitou as oportunidades que teve e tem uma boa experiência na gestão. A Yane também teve experiência como membro da comissão de atletas e participou dos nossos conselhos de administração, das assembleias. Agora teremos um Fórum Nacional de Atletas, promovido pelo COB, mas que é dele, do conselho da Comissão de Atletas. São pessoas que têm suas expectativas e anseios, é natural.
Uma mensagem para os gaúchos há 100 dias dos Jogos Olímpicos. O que podemos esperar da participação do Time Brasil em Paris?
O Rio Grande do Sul, com seus clubes, é um celeiro de atletas para muitas modalidades esportivas e olímpicas. Temos muitos integrantes de seleções brasileiras que são da Sogipa, do União, de outros clubes. Atletas que estão na corrida olímpica ou dentro já. O judô tem a Mayra Aguiar e o Daniel Cargnin já classificados. Mas não quero citar nomes mais para não esquecer e todos merecem ser citados. Quero dizer para os gaúchos que o Time Brasil tem a expectativa real de ter um resultado melhor do que em Tóquio.
*O repórter viajou a convite do Comitê Olímpico do Brasil.