A discussão gerada pela entrevista da ministra Ana Moser, que disse não considerar os eSports como esportes tem alguns aspectos que devem ser considerados. Não creio que a intenção da ministra do Esporte seja desmerecer a comunidade de gamers, que é das que mais crescem no Brasil. O que entendi da fala da ex-jogadora da seleção brasileira de vôlei é que existem alguns critérios para que qualquer prática seja considerada esporte.
Para se definir jogo e esporte, um dos princípios considerados são os objetivos e regras. De forma resumida, esporte é uma atividade física institucionalizada, com objetivos lúdicos ou profissionais, e que possui regras definidas por instituições regulamentadoras, como federações e confederações, num sistema de filiações.
É dessa forma, por exemplo, que podem ser considerados olímpicos, seguindo requisitos pré-estabelecidos pelo Comitê Olímpico Internacional (COI). Já o jogo é uma atividade espontânea e de regras flexíveis e invariavelmente não é profissional, além de não seguir o sistema tradicional de hierarquia e regras fixas, que são controladas por uma entidade como ocorre com Fifa (futebol), Fiba (basquete) e Fivb (vôlei).
E é aqui que temos alguns pontos. Os gamers (jogadores de eSports) estão se tornando profissionais? Sim, boa parte deles disputa competições e têm contratos com clubes.
Mas aí entra um outro detalhe. São regras fixas? E quem as administra? A resposta é que não temos uma federação específica para eSports, assim como regras fixas, já que as competições são organizadas pelas empresas que os desenvolvem e até mesmo por serem atualizados por elas próprias.
Por isso, o debate sobre ser ou não esporte pode até se tornar irrelevante. Claro, que para ter reconhecimento internacional como tal, as empresas que criam e desenvolvem os jogos eletrônicos teriam que abrir mão do controle de muitas coisas que hoje elas detém, como organizar competições e, principalmente, a parte financeira.
Ter o reconhecimento pode dar benefícios, como verbas destinadas por força de lei, como ocorre com as confederações filiadas e reconhecidas pelo Comitê Olímpico do Brasil (COB) e acesso a alguns programas como o Bolsa Atleta. Por outro lado, estas empresas teriam de se adequar a tantas regras que podem não ser interessantes a comunidade dos gamers e de quem lucra cada vez mais com o crescimento deste setor. E pode-se colocar aqui, inclusive, questões ligadas a cargas tributárias às quais os equipamentos esportivos são submetidos.
O debate está posto e as visões são as mais amplas possíveis. O que particularmente penso é que, assim como já ocorreu com o surfe, a escalada esportiva, skate e o breaking, a tendência é de que no futuro ocorra acordo para que os eSports ganhem reconhecimento como esporte.
Isto seria um passo para que os sSports se tornem parte do programa olímpico, algo que o futsal não conseguiu até hoje. Porém, no momento, para tristeza dos gamers, os jogos eletrônicos ainda não podem ser chamados de esporte, como disse Ana Moser.