Porto Alegre recebe, nesse final de semana, na maior pista da América Latina, na orla do Guaíba, alguns dos maiores nomes do skate mundial. As competições estão previstas para começarem nesta sexta-feira (27) e irão até o próximo domingo (29).
Antes da realização da segunda etapa do STU National, principal competição de skate do Brasil, a coluna conversou com Eduardo Musa, presidente da Confederação Brasileira de Skate (CBSK) desde 2018.
Qual a importância para a modalidade de estar presente nos Jogos Olímpicos?
A Olimpíada deu visibilidade e tirou o esporte da sua bolha. O skate sempre teve um mercado muito forte, característico, com marcas específicas. Claro que o sucesso nas Olimpíadas ajudou muito o esporte a sair dessa bolha, diminuir o preconceito. Pais e mães passaram a incentivar. Historicamente foi um esporte muito mais praticado por homens, poucas meninas se arriscavam. Hoje ainda é assim, mas com um crescimento de praticantes femininos maior. A Olimpíada foi um momento de virada, para que o skate fosse inserido no dia a dia das pessoas.
Esse crescimento de exposição ajudou a ter novos praticantes, incluindo alto rendimento?No alto nível demora pra chegar. Pra formar um atleta de alto nível não é tão rápido assim. Quem hoje está na briga, correndo, são pessoas que já estavam antes, mesmo bastante jovens. Mas o aumento foi muito sensível no volume de praticantes das competições, incluindo amadores e iniciantes. No Natal faltou skate pra entregar. Muitas lojas não conseguiram entregar porque não tinham mais peças. Esse é um dado importante.
Porto Alegre recebe neste final de semana a segunda etapa do STU National. E a nossa cidade tem uma pista nova, que tem grande procura ....
A qualidade das pistas é fundamental para a prática do esporte. A pista de Porto Alegre era pra ser a maior da América Latina, agora estão terminando de construir uma no México que vai superar em tamanho. E só com qualidade a gente atende demanda. O exemplo de Porto Alegre é icônico. A prefeitura fez uma obra de arte, uma pista desse tamanho e que está sempre lotada nos finais de semana. Imagina nas cidades que não tem essa qualidade. A busca hoje da Confederação é por pistas de qualidade. Desde o boom, a gente não tem problema de quantidade, mas sim de qualidade de pista. Porque se você analisar a maioria dos outros esportes tem medidas oficiais, tamanhos oficiais. O skate não tem e é por isso que o skate se tornou isso (popular). Porque o objetivo do skate é que cada pista tenha uma característica diferente, uma altura diferente, para que as competições não fiquem iguais. Então a nossa briga hoje é pela construção de pistas de qualidade e não de quantidade. e é o que vem acontecendo no Brasil.
E ter uma geração vencedora como a atual o que significa para o skate?
Pra gente é mágico. Por isso anunciamos a realização de dois mundiais, de park e street serão disputados no Rio de Janeiro em outubro, com a chamada: " Brasil, o país do skate". É uma provocação, uma brincadeira. Claro que sabemos da importância, do tamanho do futebol, ainda mais dentro da cultura do brasileiro. Mas o skate é muito respeitado no mundo todo. O Brasil sempre foi visto como pioneiro na organização pelo mundo. Somos a confederação mais antiga e melhor organizada do mundo. Temos ícones do esporte mundial, como Bob Burnquist, Sandro Dias, que foram nomes que saíram da bolha mais facilmente. Fizeram sucesso tempos atrás. E os de hoje tem sucesso porque esses desbravaram o caminho. Hoje com o skate olímpico a confederação consegue oferecer uma estrutura maior. Temos a seleção brasileira, com um trabalho diário com todos eles. São 25 atletas da principal mais 12 da júnior. E temos mais uns 10 que não são da seleção que nós tentamos ajudar de alguma forma, com estrutura para competições.
Como é a relação com o Comitê Olímpico do Brasil?
A relação institucional é muito boa. Desde a nossa chegada em 2018, o departamento de esportes do COB sempre nos atendeu bem, dentro das possibilidades que eles tinham, nos ajudaram nos nossos projetos. O primeiro ano nós engatinhamos um pouco, mas a partir de 2019 com a criação da seleção brasileira, do calendário mundial, o COB sempre esteve junto com a CBSK proporcionando estrutura aos atletas de ponta do Brasil.
A CBSK sobrevive com verbas próprias ou do que é repassado pelo COB?
Hoje, 27 de maio, o nosso orçamento anual é praticamente 50% de verba do COB e 50% de patrocinadores. Mas até 2020, 85% era dinheiro destinado pelo COB. Lembrando que a divisão de verbas do COB tem critérios de resultados. Com o nosso resultado da Olimpíada de Tóquio, o nosso 2022 teve um acréscimo de verba, independente de relacionamento. Mas verba ordinária, porque o skate fez por onde receber com resultados em mundiais, sul-americanos e Olimpíada.
Por fim, tudo que foi falado sobre o crescimento do esporte fez desaparecer um preconceito que existia em relação aos praticantes?
Sumir não. Não dá pra mudar. Ainda mais no país que a gente vive, não dá pra mudar uma cultura de anos. Há 30 e poucos anos atrás, a prefeitura de São Paulo proibiu a prática de skate em São Paulo por decreto-lei. Eu acho que tivemos uma evolução gigante. O fato de termos uma menina de 13 anos (Rayssa Leal) medalhista. Claro que não vai aparecer todo dia um fenômeno desses. Ela claramente é um. Mas é uma menina, uma criança que chegou. É um exemplo, uma síntese que é possível que uma criança, um adolescente pode ir para uma pista e ter uma profissão dentro do esporte. Esse foi um dos legados que essa primeira Olimpíada nos trouxe. Diminuiu muito o preconceito. Acabar não, isso ainda vai levar mais um tempo. Quem sabe com mais resultados em Paris esse assunto será encerrado.