O perfil Gaúchos na Copa se apresenta na rede social como 12º jogador. Uma posição clássica que existe em todos os clubes. Se 11 atletas atuam em campo, a torcida é o 12º elemento, jogando junto. Logo na segunda frase, a apresentação na internet já indica ao visitante o tamanho que a página tem: 32 anos de Copas. Oito Mundiais nas arquibancadas e um legado para honrar.
Gustavo Damasceno e Frank Damasceno são os comunicadores que aparecem nas fotos e nos vídeos, sempre em meio à torcida brasileira em Doha. Você pode não reconhecer a primeira vista, mas olhe de novo, especialmente para o Gustavo, que tem a fisionomia parecida com alguém que você certamente já viu.
Clóvis Fernandes, falecido em 2015, era um torcedor símbolo do Brasil. Eleito pela Fifa, inclusive, como um dos torcedores mais marcantes da história dos Mundiais. Com bigode, chapéu e uma réplica da taça da Copa sempre a tiracolo, foi assim que ele fez história. E é assim que os filhos querem dar sequência à trajetória do pai. Fizeram isso na Rússia, mas a vinda ao Catar dependeu de ultrapassar muitos desafios.
Os dois são trabalhadores autônomos. Enfrentaram problemas financeiros e pessoais na pandemia. Some-se isso ao altíssimo custo da Copa mais cara da história e tenha ideia do tamanho dos desafios que a dupla enfrentou para conseguir chegar ao Catar.
Montaram um projeto comercial e fizeram reuniões com empresas de todo o mundo. A primeira investidora foi uma marca chinesa de telefonia.
— Fizemos diversos documentários para lá, eles conhecem muito a nossa história — conta Gustavo.
Na caminhada para confirmar a vinda, a dupla contou também com a adesão do público, que fez campanhas digitais incentivando as empresas a entrarem no projeto e apoiarem a ida dos gaúchos à Copa. Mas até conseguirem todas as aprovações, acabaram perdendo o primeiro jogo do Brasil. Problema que virou uma baita experiência. Como estão sempre nas Copas, desde 1990 não assistiam a um jogo do Mundial em Porto Alegre. Em razão do atraso para embarcarem, decidiram acompanhar a estreia brasileira contra a Sérvia na festa montada na orla da capital gaúcha.
— Foi lindo ver a gauchada de verde e amarelo torcendo e vibrando. Dizem que gaúcho não gosta tanto de Copa, mas nós somos muito apaixonados — diz Gustavo.
Perrengue no 974
Finalizaram os detalhes do embarque e chegaram a Doha no segundo jogo da Seleção, contra a Suíça, no Estádio 974, onde se depararam com mais um desafio. Pela primeira vez na história, não permitiram a entrada da taça no estádio.
— Mostrei ao pessoal da segurança o site da Fifa com quatro reportagens sobre a nossa história que foram feitas só nessa Copa — conta Gustavo, que precisou entrar em contato com a Embaixada Brasileira para conseguir a liberação para a partida seguinte, no Lusail.
Nas ruas e nos estádios de Doha, os dois são abordados constantemente por outros torcedores de todo o mundo como celebridades.
— Pessoas de todos os continentes reverenciam a nossa caminhada e a história do pai, e por isso a gente vai seguir firme mantendo vivos os Gaúchos na Copa — diz Gustavo.
A ideia é manter a marca, expandir e criar ações constantes de relacionamento com outras marcas e clientes durante todo o ano, e não só nos períodos de Copas.
— O futebol é o maior esporte do mundo, a Copa, o maior evento do planeta, e nós temos o melhor produto nesse contexto que é a Seleção Brasileira — explica Gustavo.
Que eles sigam representando os brasileiros e os gaúchos por muitas Copas ainda.