Aleksandar Vidic é um arquiteto sérvio. Se eu, que sou jornalista, já estou impactada com a arquitetura de Doha, imaginem ele. Nos abordou na saída do estádio Lusail após a vitória da Seleção Brasileira sobre a Sérvia na estreia da Copa e não parava de falar das construções da cidade do mundial. Abordou desde a mistura do contemporâneo com o tradicional até as minúcias das modernidades acopladas a cada construção.
Ouvíamos atentamente sem entender o motivo daquela conversa, até que ele mostrou a camiseta que estava vestindo. Dizia "NEIMAR". Assim mesmo, com i e não com o y, como o nome do ídolo do time do Brasil.
— É uma região no centro de Belgrado, a capital do meu país — explicou Aleksandar.
Ele mandou fazer a camiseta especialmente para assistir ao jogo entre Brasil e Sérvia, para contar ao mundo da curiosidade que une seu país a um dos jogadores mais famosos do planeta. Segundo Aleksandar, os moradores do bairro de Neimar conhecem mais o atleta do que a origem da palavra que batiza o local. Neimar, com i, é uma antiga palavra do dicionário sérvio que significa "construtor''. Conta-se que o bairro homônimo do craque teve grande parte do terreno comprado por uma construtora que ergueu as primeiras casas há cem anos, de nome Neimar, que explica a origem.
Diferentemente do nosso NeYmar, que está sempre nas manchetes, o bairro é tranquilo e praticamente todo residencial. Se os moradores gostam do ídolo do PSG e da seleção brasileira?
— Mas é claro! — responde Aleksandar entre gargalhadas.
E ele continua explicando que a população que vive ali se sente homenageada e conectada a Neymar, com algumas pessoas imaginando que existe relação entre os nomes. Junto com a camiseta, o arquiteto levava uma manta dividida entre as bandeiras do Brasil e da Sérvia. Já esteve no Rio de Janeiro e admira profundamente grandes arquitetos brasileiros como Oscar Niemeyer. No futebol, deposita todo o carinho pelo esportista brasileiro. Que, aliás, Aleksandar só vai ver jogar novamente na próxima fase.
Souq Waqig
O dia seguinte de uma estreia com vitória por dois gols em uma Copa do mundo é um misto de ressaca e sensação de recomeço. Não há tempo a perder. Em poucos dias, a Seleção Brasileira precisa voltar a campo para enfrentar a Suíça, com quem está empatada em pontos, e ainda será preciso lidar com as ausências de Neymar e Danilo, lesionados. Mesmo assim, o clima entre os brasileiros em Doha era de festa, alegria, otimismo.
Saí para entrar ao vivo no Jornal do Almoço. Escolhemos o movimentado Souq Waqig, o mercado público que é um dos principais pontos turísticos da cidade e que recebe o maior número de torcedores. Já na entrada avistei alguns brasileiros orgulhosos, enrolados em bandeiras, mas pouco a pouco o cenário foi mudando, e só o que se via eram camisas azuis e brancas.
Uma invasão Argentina de deixar os muçulmanos boquiabertos, sem saber se sorriam e acompanhavam a candência das palmas ou se fugiam com medo. Uma invasão Argentina que fez centenas de aparelhos de celular serem levantados no alto das vendas para tentar registrar aquele momento.
Gravando ou em chamadas de vídeo com a família, em transmissões ao vivo, era tanta a energia que acabou prejudicando o sinal da nossa comunicação com Porto Alegre. Ensaiei uma tristeza por não ter conseguido finalizar o trabalho como gostaria, mas logo estava cantarolando como os hermanos, que jogam a vida nesse sábado contra o México: E, para onde for, você sabe que te acompanho. E ainda que esteja nublado, nosso céu sempre é azul. Um baita exemplo de amor à seleção, mesmo nos momentos difíceis.
Catar Grená
Eu nunca entendi direito que cor é essa tal de grená. Para mim o tom de vermelho mais escuro se chama bordô. Foi com os torcedores do Caxias, da serra gaúcha, que aprendi essa denominação. Depois descobri que vem do francês: grenat.
Pois esse é justamente o tom da bandeira do Catar. Todo o material de divulgação da Copa do Mundo, os souvenirs e as muitas bandeiras espalhadas pela cidade pintam Doha de grená. Estava faltando a presença do irmão de coloração.
Mas foi tudo resolvido na estreia do Brasil. Da posição onde eu assistia ao jogo, avistei a bandeira. A única de um time gaúcha exposta no Lusail. O grená da nossa serra gaúcha também está representado no mundial.