"Alice, desculpa atrapalhar o teu treino..." Perdi as contas de quantas vezes recebi essa abordagem durante os treinamentos na academia do Parque Esportivo da PUCRS. Em nenhuma delas havia, de forma alguma, a necessidade de um pedido de desculpas. Eram trocas carinhosas de pessoas que queriam parabenizar a mim e ao Lucianinho Périco, contar suas histórias com a atividade física, tudo sempre com muita gentileza e empatia. Mas aquele contato estava diferente. A Evelise, de 49 anos, me disse que mudou de vida a partir dos conteúdos de Caminhos para a Vitória que ela assiste no Globo Esporte e lê aqui em GZH. Uma mudança intensa que estava refletida no brilho daquele olhar.
Com uma osteoporose crônica já tinha a recomendação médica de fazer exercício, mas não conseguia encontrar tempo nem motivação. "Eu via que tu ias conversar com os médicos e vinhas pra cá, e pensei que se tu conseguias eu também conseguiria", me disse ela com os olhos cheios d'água e a pele tomada de gotinhas de suor. Essa frase mostra um sentimento comum a todos que tentam realizar mudanças em busca de uma vida mais saudável: a empatia. Estamos todos no mesmo barco onde é preciso ter muita persistência para continuar remando.
O filho foi o capitão da embarcação da Evelise. O Guilherme estuda Direito na PUC. Como vai para a Universidade todos os dias, leva a mãe junto. E assim os dois vão se motivando mutuamente para terem uma vida melhor. "Eu quero dar um ponto final no sedentarismo, só que começar a se mexer não é fácil", me disse a Evelise já se despedindo e retomando mais uma série de movimentos de pernas. A trajetória dela está começando, a minha em andamento.
Já faz mais de um ano que começamos esse projeto no formato de um reality de saúde. Agora ele está chegando ao fim. Percebo pequenas mudanças no meu corpo. Confesso que as vezes caio na armadilha dos "antes e depois" da internet, querendo uma transformação mais intensa. Aí volto minha mente para o mantra do equilíbrio. Vou na academia sempre que possível, me alimento bem, mas não deixo de comer coisas gostosas, enfim, vou equilibrando a vida da forma mais saudável possível. E, com isso, me sinto muito mais disposta para as atividades mais simples do dia a dia. Não se trata de uma grande transformação imediata, e sim de um hábito novo que está tão introjetado que simplesmente acontece.
Fui dar uma olhada no aplicativo da academia, que vai registrando todas as atividades desde o primeiro dia de treinos. Fiquei impressionada positivamente com os números. Para começar, já na tela inicial, mudou meu perfil, que antes era "ativo" e passo a ser "muito ativo". Fui clicando e entrando nas outras avaliações. Na esteira encontrei a distância total de quase duzentos quilômetros percorridos nesse ano. Some-se a bicicleta, a escada, os aparelhos de musculação, e o resultado é um orgulho gigantesco de ter chegado até aqui.
Não existe mágica, milagre, uma pílula que tomada uma vez ao dia resolva todas as questões de saúde. O único caminho possível é o da persistência. Uma estrada que se cruza com a da inspiração mútua, pois quando vemos alguém conseguindo, acreditamos que nós também podemos. E podemos de fato. Então, seguirei. E se a gente se encontrar na academia, ou correndo pelas ruas, ou escolhendo uma comida saudável em algum buffet por aí, pode fazer como a Evelise e vir falar comigo. Tenha certeza que não estará atrapalhando. É exatamente o contrário, quanto mais falamos, mais incentivamos as pessoas a se mexerem.