Contornar as condições climáticas e assegurar a qualidade do produto final é um desafio comum entre os produtores de soja do Rio Grande do Sul. Entretanto, para além das corriqueiras adversidades do clima, este ano o setor deve enfrentar também novos obstáculos relacionados ao armazenamento e ao transporte da safra, especialmente devido à enchente que atingiu o Estado em maio deste ano. Com estradas afetadas e alterações significativas nos níveis de umidade, devido à grande incidência de chuva, a logística do setor precisou ser readequada para este novo cenário.
Os custos extras com secagem, manutenção de grãos e contratação de serviços de transporte somaram-se ao desafio de manter a rentabilidade, sem ocasionar aumentos significativos no custo da produção. Mas o que se percebe, de forma geral, é que a logística e o processo de escoamento da última safra exigiram uma adaptação do setor agrícola do Estado.
— Como o valor da soja é sinalizado pela bolsa de Chicago, sendo esse um valor internacional, o que a gente pode ter aqui é um aumento do custo de produção, em razão de toda a logística alternativa, tanto com transporte quanto com armazenamento — explica o diretor e coordenador da comissão de Infraestrutura e Logística da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Fábio Avancini Rodrigues.
Um dos fatores apontados como gerador de uma possível sobrecarga operacional é o estado de conservação das estradas rurais. A precariedade de alguns trajetos, muitas vezes identificada pelos próprios produtores, teve sua condição ainda mais agravada em períodos de excesso de chuvas, exigindo uma demanda por veículos mais adequados e rotas mais longas, que garantam o transporte do produto com a qualidade necessária.
Os desafios gerados no processo de escoamento da safra, no que diz respeito ao transporte rodoviário, também podem ser observados quando comparados os números de 2023 em relação a 2024. De acordo com o levantamento realizado pela plataforma de transportes Frete.com, o impacto da enchente na infraestrutura gaúcha ocasionou uma redução de cerca de 18% no transporte rodoviário de cargas no Estado.
O possível aumento no custo de produção preocupa o setor, especialmente levando em consideração os preços observados na última temporada.
— Nós tivemos a última safra com custo alto, o que aconteceu devido à redução no preço dos grãos e à manutenção do valor elevado dos insumos. Essa diferença aumentou o custo da produção e resultou em uma das safras mais caras da história — diz o presidente do Sindicato Rural de Santa Rosa, Denir Frosi.
Apesar dos desafios da última colheita, o gestor explica que a expectativa para a próxima temporada é positiva:
— Por outro lado, nós estamos com as expectativas muito positivas para a próxima safra. Tivemos um processo de plantio e germinação excelentes, o que deve nos dar ótimos resultados para a safra de 2025.
Com isso, a ampliação dos investimentos em transporte e armazenamento passou a ser um pilar fundamental no processo de qualidade do grão produzido. O desafio de assegurar a excelência dos processos exigiu dos produtores um olhar mais amplo e um custo maior de operação.
— A maior parte da produção sai do Interior, onde quase toda a malha viária ainda é de estradas não pavimentadas. Com a enchente, principalmente nas regiões que foram muito atingidas, as prefeituras ainda encontram dificuldades para reparar essas vias que dão acesso às malhas estaduais e federais. Dessa forma, os trabalhos seguem sendo feitos dentro do possível, mas causam um aumento nos custos de frete — avalia o gestor da Farsul.
Armazenagem adequada
Assim como em outras culturas, o cultivo da soja está intimamente ligado às variações climáticas e, por vezes, é suscetível aos seus efeitos. Diante de um cenário de reincidência e intensificação dessas condições, a necessidade de adotar práticas sustentáveis e medidas que acompanhem as alterações do clima torna-se ainda mais evidente.
É nesse sentido que o diretor e coordenador da comissão de Infraestrutura e Logística da Farsul orienta os produtores a buscarem investimentos em tecnologias e infraestruturas eficientes, que assegurem o armazenamento e o transporte dos cultivos de forma adequada.
— Não temos como controlar o clima, mas o que podemos fazer é acompanhar as previsões climáticas e, a partir disso, antecipar ou retardar algumas ações. Por meio de uma boa unidade de secagem e armazenamento, o que se pode fazer é minimizar prejuízos, utilizando tecnologias que auxiliem a conservar melhor o produto — afirma Rodrigues.
Crescimento
Apesar dos fatores que dificultam o processo de escoamento no período pós-colheita, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) divulgou, em seu último boletim de monitoramento dos cultivos, no mês passado, que há uma expectativa de crescimento da safra atual em relação à anterior. A projeção ocorre em razão da expansão da área destinada à cultura, o que deve representar, já na temporada atual, um crescimento de 2,8% na área plantada.
As exportações estimadas para 2025 também são satisfatórias. Ainda de acordo com a Conab, por conta do crescimento da produção e do aumento da demanda mundial pelo produto, o Brasil deve alcançar, na próxima safra, a marca de 105,54 milhões de toneladas do grão para exportação. Comparado à temporada anterior, o setor deve registrar um aumento de 12,7%.
O crescimento observado é positivo, porém ainda tímido quando comparado ao percentual de incremento do cultivo em safras anteriores. Apesar de registrar a elevação dos números, a Conab aponta que o crescimento da área plantada da oleaginosa é considerado o terceiro menor desde o ciclo 2009/2010, o que pode estar associado à escassez de chuvas, especialmente nos Estados localizados na região Centro-Oeste do país.
Na estrada
Transporte rodoviário agrícola
Período de abril a maio
2023
- Redução de 1%
2024
- Redução de 19%
Transporte rodoviário (todas as cargas)
Período de abril a maio
2023
- Redução de 3%
2024
- Redução de 21%