O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, disse nesta quarta-feira (27), que o comércio internacional é uma guerra, e que quer que o agronegócio brasileiro cause raiva em políticos franceses.
— Comércio é uma guerra. Nenhum país do mundo falará bem dos nossos produtos — disse Lula.
Ele deu a declaração em um contexto de tensão entre os produtores de carne do Brasil e o Carrefour. A rede francesa de supermercados disse dias atrás que deixaria de vender carne do Mercosul no país europeu.
O caso mobilizou o agronegócio e o governo brasileiro em uma rara convergência entre Lula e o setor.
— Eu quero que o agronegócio continue crescendo e causando raiva num deputado francês que hoje achincalhou os produtos brasileiros. Porque nós vamos fazer o acordo do Mercosul, nem tanto pela questão de dinheiro, nós vamos fazer porque eu estou há 22 anos nisso e nós vamos fazer — disse Lula sobre o acordo negociado desde 1999 e que precisa ser ratificado pelos parlamentos de todos os países dos dois blocos para entrar em vigor.
Em diversas ocasiões, o presidente brasileiro já criticou o protecionismo dos europeus, em especial da França, que sofre pressão dos seus produtores agrícolas.
— Se os franceses não quiserem o acordo, eles não apitam mais nada, quem apita é a Comissão Europeia. E a Ursula von der Leyen (presidente da Comissão Europeia) tem procuração para fazer o acordo e eu pretendo assinar esse acordo este ano ainda, tirar isso da minha pauta — acrescentou o presidente durante sua participação no Encontro Nacional da Indústria, em Brasília.
Na terça-feira, a Assembleia Nacional da França rejeitou a celebração do acordo Mercosul-UE e os parlamentares levantaram dúvidas sobre a qualidade, rastreabilidade e padrões sanitários da carne brasileira. O deputado Vincent Trébuchet disse que pratos da população francesa “não são latas de lixo”.
Lula também defendeu encontros empresariais em países como Índia, Japão e Vietnã para diversificar os negócios brasileiros no Exterior e atrair investimentos.
Entenda o caso
Após frigoríficos brasileiros pararem de abastecer lojas do grupo Carrefour Brasil, o Carrefour França divulgou, na terça-feira (26), nota à imprensa para "esclarecer as discordâncias" causadas pelo comunicado de Alexandre Bompard, CEO do grupo Carrefour, afirmando que a rede varejista se comprometeria a não comercializar carnes provenientes do Mercosul.
No texto, a empresa disse reconhecer a alta qualidade da carne brasileira e que continuará a valorizar os setores agrícolas brasileiros.
O Carrefour também lamentou que comunicado do CEO tenha sido recebido como um questionamento ou crítica a qualidade dos produtos.
O anúncio feito por Alexandre Bompard foi feito na quarta-feira (20). No texto, publicado em suas redes sociais, ele mencionou “desânimo e a raiva” expressos pelos agricultores franceses, que têm se mobilizado contra o acordo de livre-comércio entre a União Europeia e o Mercosul. As manifestações, lideradas pela Federação Nacional dos Sindicatos dos Operadores Agrícolas (FNSEA) e pelos Jovens Agricultores (JA), começaram na segunda-feira (18) com bloqueios de estradas e outros atos.