Uma carta publicada pelo CEO do Carrefour, Alexandre Bompart, na última quarta-feira (20), segue repercutindo no agronegócio brasileiro. Na postagem compartilhada nas redes sociais, Bompart afirmou que, para apoiar os produtores da França, a rede deixará de comprar carne produzida nos países do Mercosul - Brasil, Argentina, Paraguai, Bolívia, Venezuela e Uruguai.
Representantes da cadeia produtiva brasileira publicaram uma carta aberta, divulgada pela Agência da Frente Parlamentar da Agropecuária neste sábado (23), em resposta a Bompart. No texto, empresários e produtores chamam a decisão de infundada e injustificada.
"Se uma carne brasileira não serve para abastecer o Carrefour na França, é difícil entender como ela poderia ser considerada adequada para abastecer qualquer outro mercado. Afinal, se o Brasil, com suas práticas sustentáveis, sua legislação ambiental rigorosa e sua vasta área de preservação, não atenderia aos critérios do Carrefour para o mercado francês, então, provavelmente, não atenderia aos critérios de nenhum outro país", diz a carta.
Segundo o jornal Estadão, frigoríficos brasileiros já pararam de abastecer as lojas do Grupo Carrefour Brasil por causa da medida. A interrupção nas entregas atinge mais de cem lojas do Carrefour, Atacadão e Sam's Club. Em nota enviada à publicação, a rede informou que não há desabastecimento.
Procurado pela reportagem de Zero Hora, o Grupo Carrefour Brasil disse lamentar a situação atual, que "impacta os clientes". "Seguiremos trabalhando para resolver essa situação da melhor forma possível", diz o comunicado (leia a íntegra abaixo).
Entenda a decisão do Carrefour
No documento em que anunciou que o Carrefour deixará de comprar carne produzida nos países do Mercosul, Bompart ressaltou que a rede estaria pronta para a implementação da iniciativa "qualquer que seja o preço e a quantidade de carne que o Mercosul venha a nos oferecer". O Ministério da Agricultura e a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) emitiram comunicados sobre a declaração.
Em meio à repercussão negativa vinda de órgãos e entidades brasileiras, o Carrefour informou, na quinta-feira (21) que a suspensão de compra de carnes do Mercosul se aplica apenas às lojas da França. Em nota, a rede esclareceu que a medida, "em nenhum momento, se refere à qualidade do produto do Mercosul."
O que diz o Carrefour Brasil
Procurado pela reportagem de Zero Hora, o Grupo Carrefour Brasil emitiu o seguinte posicionamento:
Nós, do Grupo Carrefour Brasil, lamentamos profundamente a atual situação e reafirmamos nossa estima e confiança no setor agropecuário brasileiro, com o qual sempre mantivemos uma relação sólida e de parceria. Entendemos a importância deste setor para a economia e para a sociedade como um todo, e continuamos comprometidos com o fortalecimento dessa relação.
Infelizmente, a decisão pela suspensão do fornecimento de carne impacta nossos clientes, especialmente aqueles que confiam em nós para abastecer suas casas com produtos de qualidade e responsabilidade.
Há 50 anos temos construído e mantido uma excelente relação com nossos parceiros e fornecedores, pautada pela confiança mútua. Por isso, estamos em diálogo constante na busca de soluções que viabilizem a retomada do abastecimento de carne nas nossas lojas o mais rápido possível, respeitando os compromissos que temos com nossos mais de 130 mil colaboradores e com milhões de clientes em todo o Brasil.
Reiteramos nosso compromisso com o país, o respeito ao consumidor e a transparência em todas as etapas deste processo. Seguiremos trabalhando para resolver essa situação da melhor forma possível, sempre com o objetivo de atender com qualidade e excelência aos nossos clientes.