As perdas já consolidadas desta safra de grãos de verão, sobretudo no milho, e a perspectiva que a situação piore na soja nos próximos dias geram apreensão entre os produtores gaúchos. Nesta terça-feira (3), a Emater indicou que a quebra na safra já é de 13,8% em relação ao que era esperado no início do ciclo. Com 40 hectares da oleaginosa em Quinze de Novembro, no noroeste do Estado, a agricultora Sirlei Fassbinder, que visitou a Expodireto-Cotrijal nesta terça, começou a colheita nesta semana com resultados muito abaixo da média de anos anteriores em razão da estiagem.
Até o momento, a produtividade varia entre 12 e 15 sacas por hectare, muito abaixo da média de 63 sacas obtida no município em anos anteriores. Sem perspectiva de chuva nos próximos dias, Sirlei já admite que a safra será de prejuízo. Segundo ela, o baixo volume de precipitação em 2020 fez com que o uso de inseticidas e fungicidas não surtisse o mesmo efeito de anos anteriores e algumas pragas apareceram na lavoura.
— A gente acorda no meio da noite e não consegue mais dormir. Não buscamos recursos em banco. O que tínhamos, investimos no plantio. Neste ano, apareceu muito ácaro e tripes e tivemos que passar os produtos mais vezes do que se passaria. Com isso, o custo se elevou e a produção vai cair — relata Sirlei.
Em propriedades com irrigação, a situação é diferente. O investimento em pivôs realizado dois anos atrás é o que garante bons resultados ao agricultor Gelso Pezzini, de Santa Bárbara do Sul, no norte, nesta safra. Em uma fazenda com 500 hectares, divididos entre milho e soja, 70% da área cultivada recebe água.
— A irrigação é um seguro para o produtor. É um investimento que, ao longo do tempo, vamos vendo que é favorável e gera retorno — reforça Pezzini, destacando que o aporte no sistema fica na faixa de R$ 9 mil por hectare.
Pezzini constata que a diferença de rendimento entre as partes irrigadas e secas é gritante. No milho, obteve em torno de 200 sacas por hectare no local que passou ileso à estiagem, enquanto no restante da área a produção não passou de 80 sacas por hectare.
Já na soja, que deverá ter a colheita iniciada nas próximas semanas, o desenvolvimento dos grãos ocorre sem problemas na área com pivôs. Paralelamente, nos locais secos, a produtividade deverá ser menor em razão da falta de chuva.