A paralisação dos servidores estaduais da Secretaria da Agricultura segue causando impactos no setor. Entre 26 de novembro, quando iniciou a greve, e terça-feira (10) deixaram de ser emitidos 1,7 mil documentos para o transporte de produtos vegetais, fazendo com que R$ 68 milhões em mercadorias deixassem de ser comercializados, segundo a Associação dos Fiscais Agropecuários do Estado (Afagro-RS). A secretaria confirma o número de solicitações represadas, mas não estima o valor do prejuízo. Além disso, o Rio Grande do Sul registra queda nos abates de animais em relação ao mesmo período de 2018 e frente às semanas anteriores à greve.
Cerca de 90% dos 750 fiscais e técnicos agropecuários aderiram à greve em todo o Estado. Na área vegetal, a mobilização conta com a participação de todos os servidores. Com isso, desde o início do movimento, deixaram de ser emitidas 983 permissões de trânsito vegetal (PTVs) e 788 guias de trânsito livre (GTL).
Entre os produtos vegetais que tiveram circulação afetada estão maçã, cítricos, sementes e derivados de uva. O presidente da Associação dos Produtores de Maçã do Rio Grande do Sul (Agapomi), José Sozo, relata que o impacto no setor ocorre justamente no momento em que se está escoando o restante da produção de 2019.
- Essa maçã é ainda da safra passada e não podemos mais deixá-la na câmara, pois já estamos nos preparando para começar a colher a próxima safra - diz.
Já nos frigoríficos, a atividade vem sendo realizada em ritmo reduzido. Ainda que a Secretaria da Agricultura tenha montado um gabinete emergencial para emitir documentos como a Guia de Trânsito Animal (GTA), o número de abates vem caindo. No período da greve, de acordo com a Afagro-RS, foram abatidos 89,7 mil bovinos no Estado, redução de 16% frente a igual período do ano passado e de 26% frente aos 15 dias anteriores à greve. A Secretaria da Agricultura contesta o dado e afirma que foram abatidas 92,5 mil cabeças, o que representa queda de 15% na comparação com 2018 e de 16% frente aos 15 dias antes da paralisação dos servidores.
Em meio a esse contexto, o Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados do Estado (Sicadergs) conseguiu liminar, em conjunto com o setor de aves e suínos, para manutenção de pelo menos 30% dos serviços e contratação de veterinários terceirizados.
_ Notamos a queda nos abates principalmente na primeira semana da greve, mas vemos uma tendência de normalização. Existe um grande número de municípios conveniados ao Estado para a emissão de GTA e também estamos recorrendo à Secretaria da Agricultura _ salienta Ronei Lauxen, presidente do Sicadergs.
Segundo Lauxen, a greve não deve trazer reflexos na disponibilidade de carne para exportação e pouco afeta o preço final do produto. Neste sentido, o dirigente ressalta que o Estado está na entressafra, momento no qual a oferta de bovinos para abate é menor.
Motivos da paralisação
Atraso no pagamento dos salários, falta de reposição da inflação na remuneração há cinco anos e as mudanças propostas pelo governo do Estado no plano de carreira dos servidores são os principais motivos que levaram à greve, aponta o presidente da Afagro-RS, Pablo Fagundes. Uma das críticas está na redução do adicional de insalubridade.
- Hoje, o adicional fica em torno de 40% e o pacote pode reduzir para, no máximo, 20%. Queremos a retirada do regime de urgência do pacote na Assembleia - diz Fagundes.
O secretário da Agricultura, Covatti Filho, afirma que a negociação das pautas com o funcionalismo está a cargo da Casa Civil. Enquanto a greve perdurar, o centro integrado da secretaria, composto por cerca de 10 funcionários, está realizando a emissão de documentos.
- Enquanto tiver greve, vamos fazer o máximo possível para atender à demanda com os próprios quadros da secretaria - aponta.