Por Eliseu Alves, doutor em Economia Agrícola e fundador da Embrapa
Jorge Duarte, doutor em Comunicação que atua na Embrapa desde 1990
Enxada, semente, trator, irrigação, tablet, drone – símbolos da agricultura brasileira. Errado, muito errado. O ícone deveria ser um cérebro representando o conhecimento, a informação e seu uso inteligente. Não há substituição possível.
O Brasil deu um salto que o transformou de importador em um dos líderes mundiais na produção de alimentos porque investiu em ciência. Capacitou milhares de especialistas e os esparramou pelo país para gerar conhecimento, atuar com extensionistas, orientar produtores, desafiar o marasmo e o pessimismo. Não evoluímos porque tínhamos sementes, tratores ou drones. Esses insumos e instrumentos surgiram depois.
Há dois tipos de conhecimento na agricultura. O cristalizado, que é aquele palpável – uma raça melhorada, novos fertilizantes ou defensivos, sementes adaptadas, a colheitadeira. Gostamos de dizer que produzimos mais porque temos um trator mais moderno ou uma semente mais vigorosa. Isso é parte da verdade, mas não explica o principal: não podemos utilizá-los adequadamente sem instruções ou conhecimento.
O grande trunfo do agricultor brasileiro está no conhecimento não cristalizado – aquele gerado principalmente por institutos de pesquisa e universidades, e também pela experiência. Está em saber avaliar o ambiente, compreender o contexto, conhecer alternativas de uso adequado. Melhorar o que existe, corrigir, inovar, fazer as opções certas e, em essência, dominar técnicas de plantar ou criar, de como tratar a terra, a melhor época, a gestão da propriedade. Está, por fim, em saber manejar o sistema de produção, qual semente usar, o trator mais rentável, saber comprar, vender e negociar.
O grande trunfo do agricultor brasileiro está no conhecimento não cristalizado – aquele gerado principalmente por institutos de pesquisa e universidades, e também pela experiência.
Grande parte da explicação para o aumento da produção está na capacidade dos agricultores em bem utilizar os insumos disponíveis. Entre 1975 (a Embrapa foi criada em 1973) e 2017, a taxa de crescimento do conhecimento como fator de produção agrícola variou entre 64% e 90%. Assim, desenvolvimento tem maior relação com gestão inteligente decorrente de informações de qualidade do que a simples posse dos instrumentos.
Um exemplo simples: produtores rurais tendem a ser mais bem-sucedidos quando se organizam. Quem compra ou vende em grupo consegue preços melhores. Quem reivindica junto tem mais força. Bom agricultor tem iniciativa e capacidade de melhorar o que faz.
Portanto, é a inteligência ao usar informação de qualidade que aumenta a produção, não os insumos. Cérebro, o símbolo do agricultor brasileiro.