O título deste artigo pode parecer pitoresco, mas realça um conflito de interesses que ocorre no setor agrícola do Rio Grande do Sul. Produtores de frutas vêm denunciando os efeitos negativos da aplicação de herbicidas tendo como componente o chamado 2,4-D.
Plantadores de grãos, principalmente de soja, demonstram que suas produtividades seriam significativamente prejudicadas sem a aplicação do defensivo para combater ervas daninhas. Uma delas, amplamente conhecida, é a “buva”, que usarei como exemplo para argumentar. É resistente ao glifosato, pelo que exige o uso de outros produtos para seu combate.
Tanto a buva quanto outras ervas daninhas, se não atacadas, prejudicarão de forma acentuada a produção de grãos, destacadamente a soja. No entanto, aumentam as cobranças dos produtores de frutas afirmando que a aplicação do herbicida vem atingindo pomares vizinhos e até distantes, em razão da deriva.
Há defensores da proibição do uso do 2,4-D no Rio Grande do Sul. Outros são radicais na defesa da aplicação do produto.
O produtor de grãos precisa ter consciência de que adotar cuidadosas práticas na aplicação do herbicida é fundamental, sob pena de medidas mais radicais contra o uso
O herbicida é usado no mundo. No entanto, exames procedidos na Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural do Rio Grande do Sul demonstram que em grande número de casos submetidos à análise havia presença do elemento químico nos parreirais e pomares diversos.
O Serviço Nacional de Aprendizagem Rural do RS (Senar-RS) está promovendo cursos para orientação aos produtores quanto à correta aplicação do herbicida, evitando efeitos danosos com a deriva. Alguns assimilam as orientações e outros fazem pouco caso.
O Ministério Público estadual, em atitude elogiável, vem promovendo encontros visando às soluções que “estimulem o combate à buva, sem prejudicar a produção da uva”.
A Secretaria da Agricultura, também responsavelmente, procura orientar quanto à correta aplicação do herbicida e procede às análises de casos submetidos à sua apreciação.
A mídia age responsavelmente, noticiando e analisando, mas não radicalizando.
O produtor de grãos precisa ter consciência de que adotar cuidadosas práticas na aplicação do herbicida é fundamental, sob pena de medidas mais radicais contra o uso. Somente com diálogo, interação e grandeza conseguiremos, ao mesmo tempo, “sem buva, mais uva”.