As características singulares conferidas pelo terroir da serra gaúcha na fabricação de espumantes têm se tornado fundamentais para o sucesso dos rótulos em concursos internacionais. Nos últimos cinco anos, em torno de 70% das medalhas do Brasil em competições vinícolas foram conquistadas pela bebida, segundo a Associação Brasileira de Enologia (ABE). As distinções chancelam a qualidade para consumidores dentro e fora do país, alavancando negócios e repercutindo no campo, com aumento de cultivo das variedades utilizadas na elaboração de espumantes.
O gerente de promoção do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), Diego Bertolini, lembra que o clima e o solo da Serra garantem bom grau de acidez natural à uva, o que acaba se refletindo no processo de vinificação. Além disso, o dirigente ressalta a versatilidade da produção, que consegue manter o alto padrão tanto no método charmat, como no tradicional.
Em razão dessas peculiaridades, os espumantes brasileiros acabaram caindo nas graças dos críticos estrangeiros. Vinícolas gaúchas vêm se notabilizando em avaliações e prêmios que não deixam nada a desejar à champagne francesa, à cava espanhola ou ao prosecco italiano. Por isso, desde o ano passado, o Ibravin definiu o espumante como o carro-chefe de sua estratégia de promoção da vitivinicultura em solo estrangeiro.
— Se o malbec remete à Argentina e o cabernet sauvignon ao Chile, a ideia é que o espumante seja sinônimo de Brasil — compara Bertolini.
O desempenho em disputas também impulsiona negócios dentro do Brasil. Em meio à vasta quantidade de rótulos disponíveis, em um país ainda pouco habituado a consumir vinho, uma premiação estampada na garrafa pode atrair a atenção.
— As premiações são importantes porque o consumidor entende que aquele produto foi degustado por um grupo de experts. E é por meio dos concursos que o mundo conhece nossos vinhos — diz Edegar Scortegagna, presidente da ABE.
Vendo o potencial de mercado, as empresas têm reforçado a aposta na bebida. No ano passado, pela primeira vez na história, a comercialização de espumantes superou a de vinhos finos.
No período, o Rio Grande do Sul vendeu 17,4 milhões de litros de espumantes contra 15,6 milhões de litros de vinhos finos, segundo dados do Ibravin. De 2007 a 2017, a elaboração da bebida borbulhante cresceu 102%. Já a de vinhos de uvas viníferas teve queda de 22%.
Maior demanda por chardonnay e pinot noir
Nas variedades cultivadas na Serra mais utilizadas em espumantes, a colheita de chardonnay cresceu 19,35%, passando de 6,2 mil para 7,4 mil toneladas, e a de pinot noir, 29,17%, de 2,4 mil a
3,1 mil toneladas, entre 2013 e 2015, segundo o Cadastro Vitícola, da Embrapa Uva e Vinho. Marcio Ferrari, vice-presidente do Ibravin e coordenador da Comissão Interestadual da Uva, lembra que a qualidade da bebida tem relação direta com a lavoura:
— É fundamental o trabalho do produtor, no manejo e na colheita na maturação correta, garantindo bom nível de acidez, de grau brix (açúcar) e de coloração das uvas.
No primeiro semestre de 2018, as vinícolas do Brasil conquistaram 136 medalhas em eventos, sendo cem destinadas em espumantes. Neste quesito, a mais vitoriosa é a Cooperativa Vinícola Garibaldi, de Garibaldi, com 27 distinções, segundo a ABE.
A média de crescimento de produção do espumante na cooperativa chega a 30% ao ano, e hoje representa cerca de 2 milhões de litros.
— A produção de espumantes é a vocação da Serra. São poucas regiões no mundo com um clima tão favorável para as uvas brancas para espumantes. Temos que explorar isso ao máximo — defende Oscar Ló, presidente da Garibaldi e do Ibravin.
Segundo Ló, o investimento em tecnologia e melhoria na qualidade da matéria-prima explicam os resultados da vinícola em concursos no Exterior. Consequentemente, as medalhas trouxeram maior demanda no mercado interno. Agora, como próximo passo, a Garibaldi pretende intensificar a exportação.