O aquecimento do mercado externo de gado em pé vem provocando mudança no manejo dos animais nos campos gaúchos. Tradicionalmente castrados ao nascer ou antes do desmame, os terneiros passaram a ser mantidos inteiros visando as exportações – já que os importadores exigem animais não castrados.
– Muitos criadores estão aguardando até o desmame para decidir sobre a castração – relata Fernando Velloso, da assessoria agropecuária FF Velloso & Dimas Rocha.
O estímulo para mandar os animais ao porto, em vez de vender nas feiras de temporada, vem da diferença no preço – cerca de R$ 1 a mais por quilo nas exportações.
– A opção é financeira. Temos de decidir pela venda que viabilize o nosso negócio, ainda mais em ano com preço baixo do arroz – diz José Roberto Pires Weber, presidente da Associação Brasileira de Angus, ao lembrar que muitos pecuaristas são também arrozeiros.
Além da maior remuneração, os criadores ainda têm a vantagem de não gastarem com frete nas exportações. Nas feiras, normalmente precisam arcar pelo menos com parte do transporte dos animais – alguns deles para fora do Estado. Outro fator, acrescenta Weber, é o de que animais inteiros (não castrados) ganham peso mais facilmente do que os castrados – por questões hormonais. O entusiasmo com as vendas externas, no entanto, se mistura com a incerteza sobre a regularidade dos embarques nos próximos meses.
– Ainda não sabemos se esse tipo de comercialização se manterá firme. Mas o fato é que essa mexida no mercado vai estimular os produtores de genética a ter um terneiro de melhor qualidade – afirma Luciano Dornelles, presidente da Associação Brasileira de Hereford e Braford.