Dia de campo na Estação Experimental Agronômica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), no final de novembro, marcou os 30 anos de um experimento que avalia o efeito da carga animal em campo nativo. Testes de longa duração, embora pouco comuns, são a única forma de assegurar o entendimento das interações dos tratamentos estudados com as variações do clima. Esse experimento, que já produziu dezenas de teses, dissertações e artigos científicos, tem sido a base para a compreensão dos mecanismos que levam o campo a reagir à intensidade do pastejo e, ao mesmo tempo, às mudanças do clima em termos de composição botânica, de produção de forragem e da sua transformação em produto animal.
Os resultados demonstram ser possível produzir mais do que se está gerando. E esse “mais” pode chegar a 300% apenas com o correto ajuste da carga animal, sem qualquer custo financeiro adicional. Mas, para a sociedade em geral, os ganhos são bem maiores do que isso, pois, além da manutenção de paisagens inigualáveis, associadas à cultura gaúcha, o bom manejo também acarreta melhoria na diversidade da flora, da fauna, na fertilidade do solo, na taxa de infiltração da água, recarga de mananciais e no sequestro do carbono atmosférico. Os resultados demonstram que as emissões de metano entérico (relativo ao intestino) dos ruminantes somada às emissões do solo em equivalente CO2, são menores do que a fixação de Carbono (C) pelas plantas via fotossíntese, ou seja, a pecuária em campo nativo bem manejado é mitigadora do efeito estufa.
Apesar da importância desse experimento, o mesmo tem subsistido durante esses 30 anos sem conseguir financiamentos diretos das agências públicas. Isso evidencia o descaso com que é tratado esse formidável recurso natural que são os campos do sul do Brasil. Esse pouco caso reflete igualmente o desconhecimento da sociedade em geral, incluindo os próprios produtores que, na sua grande maioria, não conhece ou não acredita que esse experimento demonstra uma realidade possível. Importante salientar que esse mesmo protocolo de pesquisa foi implementado em outras regiões do Estado, com resultados similares. Também se realizaram ações junto ao produtor por meio do projeto Redes de Referência (infelizmente encerrado precocemente), onde ficou demonstrada a viabilidade de aplicação do que o estudo indicava, ao dobrar a renda das propriedades em apenas três anos.
Fica a questão: se os campos têm todo esse potencial, inclusive do ponto de vista econômico, por que os estamos substituindo de forma indiscriminada por monocultivos intensivos em que a maior parte dos serviços ambientais acima citados não ocorre?
Por que não existem políticas públicas em favor dos campos? Se for por falta de conhecimento do que estamos falando sugiro então que se consulte ufrgs.br/gpep/index.php/publicações para ver em detalhes os resultados desses 30 anos de pesquisa, e o que se está estudando atualmente para melhorar ainda mais o desempenho ambiental e econômico de sistemas de produção animal baseados em campo nativo.
Carlos Nabinger é mestre em Fitotecnia e doutor em Zootecnia, professor da Faculdade de Agronomia da UFRGS
nabinger@ufrgs.br