Com a crise hídrica se espalhando, como poupar água na agricultura sem perder rendimento? Usando esgoto doméstico tratado. Foi essa a conclusão de pesquisa da Faculdade de Ciências Agrárias da Universidade Estadual Paulista (Unesp).
Coordenado pelo professor Rogério Teixeira de Faria, o estudo apontou que, se feito com controle adequado, a aplicação do efluente no campo aumenta produtividade, reduz custos e economiza água.
- A agricultura consome muita água e temos concentração urbana crescente aumentando a produção de esgoto. Nossa hipótese é de que, com o efluente, é possível reduzir a poluição e beneficiar as culturas.
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Na pesquisa em pasto de braquiária, o resultado foi um rendimento 60% maior e 50 mil litros de água por hectare poupados.
- O risco de contaminação é pequeno. Desde que haja intervalo de 10 dias entre aplicação e consumo, não há problema para animais. Além do uso para culturas como cana-de-açúcar, milho e soja, que costumam ser processadas depois, é possível aplicá-la em florestas.
Ao destacar que o sistema já é usado em países como México e Israel, Faria frisa que o protótipo foca cidades pequenas e médias:
- Quanto mais perto a lavoura ficar da estação, mais barato será.
O professor alerta que, no Brasil, não há normatização sobre o uso de efluentes para irrigar, o que reforça a importância da pesquisa:
- Hoje, metade das cidades do país não tem coleta de esgoto. Como isso deve ser sanado gradualmente, prevemos que o planejamento do sistema traria benefícios à agricultura e ao ambiente. Temos tecnologia e possibilidade imediata de aplicação do sistema. A questão, agora, é tornar isso interessante do ponto de vista político.
Como foi feita a pesquisa
- O estudo durou dois anos e buscou verificar os efeitos do uso de esgoto doméstico tratado para irrigação e os impactos produtivos e ambientais.
- A aplicação em pasto de braquiária garantiu produtividade 60% maior, economia de nitrogênio e potássio e permitiu poupar 50 mil litros de água por hectare.
- O efluente usado veio de cidade de 80 mil habitantes e foi capaz de irrigar 320 hectares.
- Os pesquisadores dizem ser possível usar o efluente para irrigar florestas e até mesmo culturas como milho e soja, que depois serão processadas.
- A próxima etapa focará manejo e impacto no solo.