Considerados atletas de alta performance, os mais de 90 finalistas do Freio de Ouro passam por exames antidoping para controle de substâncias que podem resultar em vantagem sobre os competidores ou comprometer o bem-estar animal. Em 2014, cinco cavalos tiveram testes positivos para o uso de produtos proibidos - menos de 5% do total.
Neste ano, o exame desbancou pela primeira vez um campeão do Bocal de Ouro, principal etapa da competição, em abril. O vencedor entre os machos, Festejo 1061 Maufer, da Cabanha Maufer, de Cruzeiro do Sul, perdeu o posto um mês depois. Exames indicaram a presença de mais de um anti-inflamatório. O regulamento da competição, organizada pela Associação Brasileira de Criadores de Cavalos Crioulos (ABCCC), permite uso de só um fármaco contra inflamação.
- O uso simultâneo de duas ou mais substâncias pode potencializar o efeito e gerar alguma vantagem física - diz Rodrigo Teixeira, veterinário da ABCCC.
Proprietário do Festejo 1061 Maufer, Fernando Weiand, um dos donos da cabanha, disse desconhecer o que resultou no laudo positivo, que apontou uso simultâneo de duas substâncias.
- Sabemos das regras. Não faríamos isso propositalmente. Pode ter sido um erro, descuido ou até mesmo ação de alguém mal-intencionado - pondera Weiand.
Para afastar o mesmo risco na classificatória em Pato Branco (PR), onde o animal se recuperou e garantiu vaga na final, Weiand colocou dois funcionários 24 horas cuidando do cavalo. A competição prevê a desclassificação de animais apenas na etapa onde houve o doping, e não em toda a competição. A associação chegou a discutir a possibilidade de eliminar de todo o ciclo os animais nos quais fossem detectados problemas. Sem o consenso interno, foram mantidas as regras atuais.
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Exame é obrigatório em todas as etapas
Durante quatro anos, de 2007 a 2011, exames de antidoping eram exclusividade da final do Freio de Ouro, na Expointer. No período, nenhum caso foi detectado. Foi a partir de 2012, quando testes passaram a ser aplicados em todas as classificatórias que começaram a aparecer os primeiros laudos positivos. Foram sete ocorrências, com seis animais envolvidos. Em 2013, foram sete animais.
- Desde 2013, substâncias que apareceram nos laudos positivos são para amenizar a dor. Não é estimulante ou droga - esclarece Leandro Amaral, vice-presidente de Eventos da Associação Brasileira de Criadores de Cavalos Crioulos (ABCCC).
Conforme Amaral, normalmente as substâncias são usadas por erro de manejo ou falta de conhecimento devido à cultura do antidoping ainda ser incipiente nas pistas. A associação, juntamente com outras entidades e médicos veterinários, quer estabelecer um regulamento único voltado ao bem-estar animal nas competições. A partir disso, a ideia é criar regras para provas desportivas em uma lei federal.
As regras da prova crioula
O que é proibido?
Uso de analgésicos, bloqueadores, estimulantes e mais de um anti-inflamatório.
Porque são vetados?
Essas substâncias podem melhorar o desempenho dos cavalos em provas funcionais, resultando em vantagem diante dos competidores.
O que é permitido?
Uso de um anti-inflamatório.
Por que não é vetado?
O uso controlado é permitido para amenizar a dor de animais que participam de provas de alta complexidade. A regra visa o bem-estar do cavalo.
O exame antidoping
Após uma hora da prova, veterinários coletam amostras de urina e sangue dos animais vencedores. A coleta é feita sempre na na presença de um responsável pelo equino.
O material é encaminhado para laboratório credenciado em São Paulo, e a resposta leva em torno de 15 dias para ser divulgada. O resultado é analisado por um veterinário credenciado à Federação Equestre Internacional (FEI), que emite o laudo positivo ou negativo.
Em caso de doping, o proprietário é avisado para que possa requerer uma contraprova, no máximo 15 dias após a notificação.
Fonte: Associação Brasileira de Criadores de Cavalos Crioulos (ABCCC)