Luiz Antônio Bezerra Neto, 60 anos, agropecuarista de Camaquã Gabriel Fernandes,37 anos, agropecuarista de Pedras Altas
Mário Dotto, 55 anos, agropecuarista de Caçapava do Sul
De malas prontas e disposição para aprender, agricultores e pecuaristas brasileiros estão reduzindo a distância entre a realidade das fazendas do Brasil e a de outros países. Em viagens técnicas a propriedades rurais e feiras no Exterior, produtores têm vencido a barreira geográfica e do idioma para conferir de perto o que americanos, chineses ou australianos fazem para alcançar altas produtividades em lavouras de grãos e na criação de animais.
Leia todas as últimas notícias de Zero Hora
- Há pouco mais de 10 anos, essas viagens técnicas eram muito raras. Hoje, a procura aumenta 30% ao ano, em média - calcula Frank Partington, diretor-executivo da Agromundi, agência de turismo paulista voltada ao agronegócio e com atuação em todo o país.
Feiras agrícolas como a Farm Progress Show, um dos maiores eventos mundiais de tecno­logia rural, realizada nos Estados Unidos, são um atrativo para estimular o produtor a viajar. No mesmo roteiro, normalmente de pouco mais de uma semana, há visitas técnicas a propriedades e a instituições de pesquisa - com tradutores contratados. O investimento é de pelo menos R$ 8 mil.
- Antigamente, eram empresas multinacionais que pagavam essas viagens. Hoje, os próprios agricultores bancam, pois entendem a importância de conhecer a realidade de produção e de logística de outros países - afirma Partington.
O aumento da procura por roteiros técnicos é verificado não apenas em agências especializadas, mas no mercado de viagens em geral.
- É um roteiro um pouco mais caro do que o de turismo tradicional, mas é compensado pela troca de experiência nos negócios - diz Danilo Martins, presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens no Estado (Abav-RS).
Novas técnicas são aplicadas no retorno
Referências mundiais na criação de bovinos e ovinos, a Austrália e a Nova Zelândia foram os destinos escolhidos por produtores gaúchos que embarcaram para a Oceania em abril deste ano. A missão formada por 10 agropecuaristas de Camaquã, Mostardas, Pedras Altas, Santa Vitória do Palmar e Tavares conheceu modelos de gestão e de manejo bem- sucedidos adotados naqueles países.
- Os produtores tiveram a oportunidade de conhecer técnicas que podem ser aplicadas a nossa realidade. Nesses países, a pesquisa é implantada imediatamente nas propriedades, resultando em maior produtividade - ressalta Vitor Koch, presidente do Sebrae, que promoveu a viagem em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-RS).
Os agropecuaristas foram selecionadas por meio de edital do programa Juntos para Competir, que em 2013 levou agricultores a Israel para conhecer sistemas de irrigação. O modelo de gotejamento, por exemplo, já é aplicado por gaúchos que conheceram a técnica naquele país.
Prêmio aos clientes e apoio no idioma
Quando a soja já deveria estar verde aos olhos dos americanos, o que normalmente ocorre no mês de julho, 24 agricultores gaúchos desembarcaram no cinturão de grãos dos Estados Unidos - maior produtor mundial de soja e de milho. Partindo de diversas regiões do Estado, muitos fizeram uma viagem internacional pela primeira vez. A iniciativa foi da Verdes Vales, revenda da John Deere, que premiou clientes com o roteiro nos Estados americanos de Illinois e Iowa.
- Quando falei para eles que a viagem custaria o equivalente a 200 sacas de soja, eles se surpreenderam pelo baixo valor (em torno de R$ 12 mil) - conta Guilherme Kessler, diretor comercial da Verdes Vales, que tem sede em Santa Maria e sete revendas no Rio Grande do Sul.
Para tranquilizar os produtores quanto às dificuldades com um idioma desconhecido, a viagem contou com tradutores e com o auxílio técnico do professor Arno Dallmeyer, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Para o próximo ano, a revenda já está organizando roteiros para conhecer produções rurais na Europa e na África.
- O ganho de conhecimento é tamanho que todo o grupo quer fazer outras viagens técnicas novamente - ressalta Kessler.
"A Nova Zelândia e Austrália estão no imaginário de quem lida com pecuária. Hoje, tudo é globalizado, por isso precisamos buscar conhecimento e fazer essa imersão. O que mais me chamou a atenção nesses lugares é a uniformidade da produção. Não há muita variação de produtividade. Na Austrália, todos os criadores de gado de corte atingem mais ou menos a mesma média de quilos por hectare, normalmente alta. Na Nova Zelândia, a pecuária de leite ocupa as melhores terras. Bovinos de corte e ovinos são deslocados para áreas com solo mais pobre, em montanhas. Sem contar que trabalham próximos da pesquisa, aplicando as técnicas recomendadas por estudos de universidades."
"Voltei da Nova Zelândia encantado com o trabalho de adubação do solo, resultado de décadas de investimento. Isso faz com que tenham alta produtividade. No Brasil, se produz entre 50 e 100 quilos de boi vivo por hectare ao ano. Lá, chega a 800 quilos. Aqui, a natalidade dos cordeiros gira em torno de 80 animais para cada cem ovelhas. Lá, chega a 150. O segredo é seleção e alimentação, técnicas que estou tentando aprimorar para aumentar o nosso índice de desmame. Eles investem muito em tecnologia. O manejo é bastante mecanizado, especialmente na pecuária de leite. A principal lição é que lá eles adubam e irrigam tudo o que podem."
"A organização e o planejamento americano são admiráveis. Eles têm seguro agrícola particular, da associação de produtores, muita mecanização e sabem exatamente os custos e a lucratividade que poderão ter. Os produtores não têm medo de contratos futuros: mantêm um olho na lavoura e outro na bolsa de commodities Chicago. Uma técnica que passei a adotar depois da viagem é fazer investimento cruzado para diminuir custos. Isso significa parcerias para uso das máquinas e equipamentos. Na última safra, comprei uma colheitadeira, e meu irmão, um pulverizador. Enquanto ele faz as aplicações para mim, eu empresto a máquina para a colheita dele."