O surgimento de uma nova ilha em Porto Alegre chamou atenção em julho, quando bancos de areia foram avistados próximo à Ilha das Balseiras, no Guaíba. Agora, quatro meses depois, é possível observar novamente o fenômeno.
Em momentos de cheia como a enfrentada em maio, explica o hidrólogo Fernando Fan, professor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), os rios tendem a escavar os locais mais profundos, onde o fluxo é mais forte. A areia removida é depositada nos locais mais rasos, sobre as ilhas ou nas margens.
— Eles (os bancos de areia) vão ficar mais ou menos visíveis em função das flutuações dos níveis do Guaíba, que ocorrem pelas chuvas na bacia hidrográfica e pelo vento. Sempre que venta Sul ou quando chove, e os níveis sobem, eles vão ficar encobertos pela água. Vento Norte ou períodos prolongados sem chuva, os níveis descem, e eles ficam mais visíveis — explica.
Porto Alegre não passa por uma estiagem, mas vive um período de chuva abaixo da média. Dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) apontam que, nos últimos 30 dias, a Capital registrou 72,5 milímetros de chuva. O valor fica abaixo da média climatológica do mês de novembro, que é de 105,5 milímetros.
Fan afirma que as áreas não devem voltar a ser como eram antes, uma vez que o processo é natural e as paisagens evoluíram por causa de eventos como o de maio. O hidrólogo aponta que as ilhas vegetadas e habitadas que Porto Alegre atualmente tem, no bairro Arquipélago, foram formadas dessa mesma forma em cheias do passado.
A Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) afirma que, dentro do Plano Rio Grande, está em andamento a contratação de estudos de topografia e batimetria, que irão definir o grau de alteração dos cursos hídricos do Estado após a enchente – entre eles, o Delta do Jacuí e o Guaíba – e se há a necessidade de intervenção. Além disso, houve a liberação de recursos para a dragagem das hidrovias.
A necessidade ou não de interferência divide opiniões. O professor do IPH ressalta que, por ser um processo natural, os blocos de areia não causam problemas que precisem ser contidos ou evitados:
— Justamente o contrário. Se intercedermos, os efeitos podem ser problemáticos. Por isso sempre falamos, nas notas do IPH, que se intercede depois de muito estudo. Pois uma modificação poderia gerar padrões não previstos como, por exemplo, a erosão acelerada da orla de Porto Alegre ou Guaíba — acrescenta.