Transformação de paisagens e agravamento de eventos extremos estão entre as consequências das mudanças climáticas. O cenário faz com que populações de todo o mundo convivam com crises recorrentes, que vão desde a destruição urbana até a morte de pessoas. Reduzir o problema é um dos objetivos da 29ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, a COP29, que ocorre entre os dias 11 e 22, no Azerbaijão.
Medidas globais devem ser tomadas para frear o aumento da temperatura média do planeta, segundo especialistas. Outro foco deve ser conscientizar a humanidade sobre os perigos futuros do descaso com a conservação da natureza.
– Temos temperaturas mais altas do que décadas atrás, o padrão de chuva mudou radicalmente, há aumento nos eventos climáticos extremos. Não precisa ser cientista para perceber que o clima já mudou – afirma Paulo Artaxo, professor de Física Atmosférica da Universidade de São Paulo (USP) e referência mundial no tema.
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O ano passado foi o mais quente observado na história da Terra, conforme o serviço europeu Copernicus: 1,48°C acima da temperatura média da era pré-industrial. O verão deste ano no Hemisfério Norte foi apontado como o mais quente já registrado, segundo o mesmo observatório. Conforme o professor da USP, a enchente nos municípios gaúchos, causada pela chuva anormal no Estado em maio, também é associada ao fenômeno.
– Um dos impactos das mudanças climáticas globais é o aumento da frequência e da intensidade de eventos climáticos extremos, como o que ocorreu no Rio Grande do Sul. O que estamos observando não faz parte do ciclo natural de eventos, porque não há, nos últimos 125 mil anos, nenhum ano mais quente do que 2023, como reportam medidas feitas por métodos diferenciados – diz Artaxo.
Mudança visível
Uma pesquisa conduzida por cientistas britânicos levantou um alerta sobre o ritmo acelerado em que partes da Antártica estão ficando verdes. Segundo os pesquisadores, eventos de calor extremo na região trazem preocupações quanto às mudanças na paisagem do continente gelado.
O estudo foi realizado por pesquisadores das universidades de Exeter e Hertfordshire, no Reino Unido, e do instituto de pesquisa British Antarctic Survey. Foi publicado na revista Nature Geoscience. Esse cenário de mudanças no Polo Sul preocupa especialistas na região, conforme Venisse Schossler, doutora em Geociências e pesquisadora do Centro Polar e Climático da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
– Até 2016, houve recordes de gelo marinho ao redor da Antártica, apresentando comportamento coeso. Depois disso, começou a d
comum. Isso é um forte indicativo de que um sistema climático robusto não está suportando o aumento da temperatura – afirma.
A mudança nas áreas geladas está ligada à ocorrência de tempestades. Conforme a Rede Mundial de Atribuição (WWA, na sigla em inglês), os combustíveis fósseis tornaram a formação do fenômeno 2,5 vezes mais provável no Golfo do México. Isso significa que furacões que ocorriam a cada 130 anos, agora são registrados em um intervalo de 53. O estudo foi divulgado em setembro, quando a região conviveu com dois furacões em menos de um mês – Milton e Helene.
Segundo Venisse, os fenômenos se formam devido à evaporação da água, que acelera com o aumento da temperatura do mar e o forte calor.
– O gelo marinho é um dos responsáveis pela geração de água fria e salina. Quanto menos gelo marinho, menor a quantidade de água fria e salina, o que rompe o sistema de resfriamento dos oceanos e do planeta. Ou seja, a temperatura do oceano nas áreas tropicais e subtropicais não vai baixar tanto quanto diminuiria no inverno. Isso potencializa a intensidade e a frequência de furacões – acrescenta.
A Amazônia é outra região afetada pela mudança climática, com secas históricas em 2023 e 2024. Segundo Luciana Gatti, coordenadora do Laboratório de Gases de Efeito Estufa do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a dinâmica da maior floresta tropical tem se tornado mais “inflamável” em razão da intervenção humana nas últimas décadas.
– O desmatamento representa a redução de chuva, o aumento de temperatura e da emissão de gases de efeito estufa, que é o que está mudando o clima. No lugar de proteger florestas, que são escudos contra as mudanças climáticas, aceleramos os eventos extremos quando desmatamos essas áreas – diz.