O ano passado foi 1,48º C mais quente do que a média da era pré-industrial em todo o mundo, anunciou nesta terça-feira (9) o serviço europeu Copernicus. Esse dado confirma, portanto, que 2023 foi o ano mais quente já registrado na história do planeta Terra, conforme o próprio observatório já havia adiantado em dezembro.
Segundo o Serviço Copernicus para as Alterações Climáticas (C3S), a temperatura global atingiu níveis excepcionalmente elevados em 2023. Vários indicadores foram monitorados ao longo do ano, apontando condições recordes, como o mês mais quente já registrado e as médias diárias de temperatura ultrapassando os níveis pré-industriais em quase 2°C, o que é considerado muito.
O ano de 2023 ultrapassou o de 2016, que, até então, era considerado o ano mais quente já registrado. Na época, o C3S registrou uma média de 1,3°C acima dos níveis pré-industriais. O ano "2023 registrou uma temperatura média global de 14,98°C, ou seja, 0,17°C acima do último recorde anual de 2016", explicou o observatório europeu.
Ainda conforme o observatório, o ano passado marca a primeira vez desde que há registo que todos os dias num ano ultrapassaram 1°C acima do nível pré-industrial de 1850-1900. Perto de 50% dos dias foram mais de 1,5°C mais quentes do que o nível de 1850-1900, e dois dias em novembro foram, pela primeira vez, mais de 2°C mais quentes.
O histórico Acordo de Paris de luta contra a mudança climática foi assinado por quase 200 países em 2015 para tentar controlar o aumento da temperatura média ao máximo de 2º C, e idealmente em +1,5º C.
De junho a dezembro de 2023, todos os meses foram mais quentes do que o mês correspondente em qualquer ano anterior.
Influência do El Niño
O ano de 2016 foi marcado por um forte El Niño, semelhante a 2023. Segundo o serviço europeu, o fenômeno é um dos principais impulsionadores de condições climáticas extremas.
Ainda de acordo com o observatório, o El Niño continuou no Pacífico equatorial, com anomalias permanecendo inferiores às alcançadas nesta época do ano no evento de 2015. Esse fenômeno, associado ao agravamento das mudanças climáticas, esteve ligado a muitos eventos extremos neste ano, como as queimadas na Amazônia e a chuva intensa no sul do país.
As emissões globais estimadas de carbono dos incêndios florestais em 2023, por exemplo, aumentaram 30% em relação a 2022, impulsionadas em grande parte por incêndios florestais persistentes no Canadá.
O outono boreal, de setembro a novembro de 2023, no Hemisfério Norte, foi o mais quente já registrado em todo o mundo por grande margem, com uma temperatura média de 15,30°C, ou seja, 0,88°C acima da média.
Na Europa, a temperatura média para entre setembro e novembro de 2023 foi de 10,96°C, ficando 1,43°C acima da média. Isto tornou o outono boreal de 2023 o segundo mais quente já registrado, apenas 0,03°C mais fresco que o outono de 2020.
Oceanos
A temperatura média da superfície marinha, outro indicador fundamental, também está batendo recordes em todos os oceanos do mundo, advertiu Copernicus. Os indicadores marinhos são um dado fundamental porque o mar serve como regulador da temperatura planetária, absorvendo excessos de calor e de CO2.
Os oceanos têm superaquecido de forma "persistente e incomum", batendo constantemente recordes de estações de abril a dezembro, ou seja, a cada dia foi registrado uma temperatura maior da superfície marinha em relação a registros anteriores a esta estação.
Estas temperaturas ameaçam a vida marinha, aumentam a intensidade das tempestades e aquecem a atmosfera. Os oceanos absorvem mais de 90% do excesso de calor causado pela atividade humana.
Este aumento também tem o efeito de acelerar o derretimento das plataformas de gelo flutuantes da Groenlândia e da Antártida, cruciais para reter água doce das geleiras e prevenir um aumento maciço do nível dos oceanos.