Traços de metais acima do permitido e presença significativa de bactérias foram encontrados em lama e água da enchente na Bacia do Rio dos Sinos. O resultado de um estudo conduzido por estudantes, pesquisadores e professores da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) apresentou dados sobre a qualidade ambiental da região e levantou alertas sobre a contaminação em áreas urbanas e periurbanas.
Para a análise, foram coletadas, no início de julho, 11 amostras de água e 13 de sedimentos superficiais ao longo de todo o curso do rio, desde a nascente, em Caraá, até a foz, em Canoas. Dentre as substâncias identificadas estão bactérias —comumente encontradas em esgotos, como coliformes — e metais pesados — como cádmio, cobre, cromo, níquel e até mercúrio.
— Todo mundo contribuiu com um pouquinho de contaminação por essas áreas — revela o professor Marcelo Caetano, do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da Unisinos.
Conforme Caetano, não é possível determinar uma única origem para a contaminação. Como muitos locais e veículos ficaram submersos por um longo período, as bactérias e os metais pesados podem ter vindo de baterias de carros, de estruturas de postos de combustíveis, resíduos descartados - como pilhas - e até mesmo estações de efluentes que transbordaram.
Prejuízos dos metais pesados à saúde
A preocupação levantada a partir do resultado é em relação ao acúmulo dos metais e a possibilidade de novas enchentes. O professor explica que o material é bioacumulativo, ou seja, os metais não saem ou desaparecem naturalmente dos locais, como é o caso das bactérias que não resistem a certas mudanças no ambiente.
— Se tiver uma nova enchente, ele vai bioacumular de novo. Ele vai acumulando e um excesso de metal pesado no ambiente pode atingir as pessoas. Na saúde humana, ele pode causar problemas no sistema nervoso, problemas no fígado — explica Caetano.
Os teores mais elevados de mercúrio foram registrados nos bairros Vicentina e Scharlau, em São Leopoldo. O níquel foi encontrado em concentrações superiores aos limites de prevenção em seis dos 13 pontos amostrados, e o cromo em quatro pontos. O cobre e o cádmio ultrapassaram os valores em dois e um ponto, respectivamente, de áreas urbanas em São Leopoldo.
Nos bairros Campina e Santos Dumont, em São Leopoldo, foram registrados mais de um elemento acima do recomendado.
Com o excesso de metais pesados em áreas urbanas, a contaminação pode ocorrer em locais abertos onde existe o contato com a terra e a vegetação, como praças e parques infantis. Além disso, o professor salienta que hortas também podem ser afetadas caso a água contaminada entre em contato com o solo do local.
— Uma hora nós vamos ter níveis de investigação (ao invés de prevenção), aí começa a ficar crítico. Então, a hora de trabalhar é agora. A hora de conter é agora. Nós temos que estar preparados, que estar atentos a isso — Alerta o professor.
Existem diferentes possibilidades para lidar com o problema, mas os custos podem ser altos. Caetano menciona que os sedimentos com excesso de metais pesados podem ser removidos e depositados em aterros industriais ou o solo pode até mesmo ser biorremediado, mas isso levaria mais tempo e mais recursos financeiros seriam necessários.
— Talvez a solução mais rápida seja em pontos que são críticos, que a gente possa reavaliar, fazer uma remoção e envio do material para um acervo industrial, que vai ficar lá armazenado de forma adequada — pondera.
Nova análise
O objetivo do estudo era coletar material em todo o curso do rio, o que não foi possível devido a dificuldades ou bloqueios causados pela enchente em alguns locais. Por isso, em julho, em alguns pontos só foram extraídas amostras dos sedimentos.
Uma nova coleta foi realizada no dia 31 de outubro. Desta vez, a equipe conseguiu acessar o curso do rio com mais facilidade. Agora, serão analisadas somente amostras de locais que apresentaram algum nível de contaminação na primeira etapa do estudo.
O trabalho envolveu os cursos de Geologia, Biologia, Engenharia Ambiental, graduação e pós de Engenharia Civil da Unisinos, além do Instituto Tecnológico em Alimentos para Saúde (itt Nutrifor) — responsável pelas análises microbiológicas — e do Instituto Tecnológico de Paleoceanografia e Mudanças Climáticas (itt Oceaneon) — responsável pelas análises de metais pesados. Ao todo, mais de 20 estudantes, pesquisadores e professores atuaram diretamente na pesquisa.