O projeto que prevê a construção de prédios de 14 andares próximo ao Parque Estadual da Guarita, em Torres, vem sendo alvo de críticas por parte de especialistas e líderes de entidades ambientais. A proposta arquitetônica foi protocolada pela construtora R. Dimer em maio deste ano e está sendo analisada pela prefeitura da cidade do Litoral Norte. No entanto, conforme a administração municipal, a empresa ainda precisa entregar estudos de impactos ambientais.
O movimento contrário ao projeto defende que a construção causará danos paisagísticos, ecológicos e urbanos à cidade. Chamado de Guarita Park Home Resort, o empreendimento imobiliário deve ser construído entre as ruas Alfieiro Zanardi, Boa Vista, Araribóia e São Francisco de Assis, no bairro São Francisco.
De acordo com a R. Dimer, a estrutura foi projetada com duas torres de 44 metros de altura e 14 pavimentos. O empreendimento deve ocupar o lugar do antigo Guarita Park Hotel — cuja estrutura tem três andares. Essa área está localizada na rua que passa nos fundos do Parque José Lutzenberger, mais conhecido como Parque da Guarita, importante reduto natural do Rio Grande do Sul.
Consultada pela reportagem de Zero Hora, a assessoria da prefeitura de Torres informou que o projeto urbanístico foi protocolado em 6 de maio e está em análise desde então. Entretanto, a construtora ainda precisa entregar um estudo de impacto de vizinhança e um ambiental preliminar.
Segundo a prefeitura, o empreendimento está de acordo com o novo Plano Diretor do município. O projeto prevê que o edifício seja construído na Zona 24, que não conta com um limite máximo de altura estabelecido para as edificações.
Crítica à verticalização
Presidente da Fundação Gaia e filha do ambientalista José Lutzenberger — um dos idealizadores do Parque da Guarita, na década de 1970 —, a bióloga Lara Lutzenberger é uma das especialistas contrárias ao projeto. De acordo com ela, todas as construções do bairro em questão ainda são de baixo porte, então empreendimento “inauguraria a verticalização” de uma área que “jamais deveria ter sido ocupada”.
Lara comenta que a área é extremamente frágil e que a pressão imobiliária e o excesso de circulação de pessoas nesses espaços causam impactos que precisam ser moderados. A bióloga também acredita que o empreendimento impulsionaria a construção de dezenas de outros prédios do mesmo porte:
— Isso ocorreu na Praia Grande e em toda a parte mais aos fundos de Torres. Mas esse empreendimento estaria junto a maior joia de Torres e de todo o litoral gaúcho. Se permitimos que se construam prédios altos ali, o impacto será terrível, tanto em termos de unidade paisagística quanto ecológicos e urbanos. Teremos um paredão sombreando parte expressiva da Guarita, impedindo a contemplação do pôr do sol na serra geral a partir dos morros, e um incremento do adensamento urbano já crítico com todos os impactos associados de mobilidade, lixo, efluentes e marginalização.
Singularidades ambientais
O biólogo e geógrafo Christian Linck da Luz, que é presidente da ONG Onda Verde, concorda que a construção causaria impactos paisagísticos e ecológicos para a região e acrescenta que o Parque da Guarita é um ambiente considerado único no mundo, em função de suas características e singularidades ambientais. Também enfatiza que o local conta com morros testemunhas, preservados por milhões de anos, e faz parte do território do Geoparque Caminhos dos Cânions do Sul.
— O fato de ser um geoparque não proíbe nada, mas fazemos recomendações ambientais. E nem tudo que é legal, é moral. Em um ambiente como aquele, superbonito, com uma paisagem preservada, ter dois prédios exatamente na rua de trás, acaba sendo uma agressão visual. É de se questionar o próprio Plano Diretor. Algo estar estabelecido não quer dizer que não pode ser discutido novamente — comenta Luz, ressaltando a necessidade de realizar estudos de impactos ambientais para avaliar a questão da circulação do vento, das aves migratórias e da vegetação.
Neste sábado (19), a partir das 10h, moradores e líderes de entidades ambientais darão um abraço simbólico no Parque da Guarita.
O que diz a construtora
Em nota, a R. Dimer ressaltou que o projeto surgiu “amparado e de acordo com a legislação local, consubstanciada no Plano Diretor da cidade, recentemente aprovado, o qual foi construído e referendado com base na ampla participação popular da comunidade torrense e definiu a zona do bairro como zona apta para receber empreendimentos imobiliários desse porte (inclusive maiores do que o Guarita Home Resort)”.
A construtora também enfatizou que o empreendimento foi projetado com dimensões, altura e aproveitamento do solo inferiores ao permitido pelo Plano Diretor de Torres, “atendendo, assim, aos princípios ambientais e de sustentabilidade que norteiam a atividade da incorporadora”.
De acordo com a R. Dimer, o projeto prevê áreas privativas e de uso comum, paisagismo, lazer, recreação e estacionamento, “contando com o atendimento de toda a infraestrutura urbanística necessária”. A construtora destacou ainda que a proposta foi muito elogiada pelo mercado imobiliário regional e pela comunidade local. Também apontou que “recebe com surpresa eventuais críticas ao empreendimento” e que repudia a divulgação de “informações inverídicas” sobre o projeto.
Confira a nota da R. Dimer na íntegra:
“O empreendimento Guarita Park Home Resort, localizado na área constituída entre as Ruas Alfieiro Zanardi, Boa Vista, Araribóia e São Francisco de Assis, nos lotes 01 a 08, da quadra 31,do bairro São Francisco em Torres/RS, idealizado pela R. Dimer Incorporadora Ltda., após analisar e ouvir os atores do mercado imobiliário local e as necessidades e potencialidades do bairro São Francisco, onde está localizado o empreendimento, surgiu amparado e de acordo com a legislação local, consubstanciada no Plano Diretor da cidade, recentemente aprovado, o qual foi construído e referendado com base na ampla participação popular da comunidade torrense e definiu a zona do bairro como zona apta para receber empreendimentos imobiliários desse porte (inclusive maiores do que o Guarita Home Resort).
Referido empreendimento foi projetado com duas torres de 44 metros de altura e 14 pavimentos, dimensões, altura e aproveitamento do solo inferiores ao permitido pelo Plano Diretor local, atendendo, assim, aos princípios ambientais e de sustentabilidade que norteiam a atividade da incorporadora. O projeto prevê além da área privativa, áreas de uso comum, paisagismo, lazer, recreação, estacionamento, etc., contando com o atendimento de toda a infraestrutura urbanística necessária. O projeto está devidamente protocolado junto à Prefeitura de Torres/RS, por meio da qual serão realizados estudos complementares.
O projeto foi muito elogiado pelo mercado imobiliário regional e pela comunidade local, haja vista a valorização e o investimento que a construtora pretende promover ao bairro, além de eventual contrapartida legal, melhorando a qualidade de vida dos munícipes. A incorporadora, a qual esteve e sempre estará aberta ao diálogo com as instituições e a comunidade local, tendo em vista o compromisso e a responsabilidade que tem com o desenvolvimento de Torres/RS, recebe com surpresa eventuais críticas ao empreendimento, na medida em que as mesmas não foram realizadas no momento oportuno, ou seja, quando do debate e aprovação do Plano Diretor da cidade de Torres/RS - que sustenta legalmente a aprovação e construção do empreendimento -, ou, se o foram, em prestígio ao regime democrático, não foram recepcionadas pela sociedade torrense.
Por fim, o que a incorporadora repudia são as informações inverídicas, fotos que não retratam a realidade e depoimentos desprovidos de razoabilidade e dissonantes dos anseios da comunidade local, desconsiderando ou desconhecendo os fatores positivos advindos do empreendimento, situações que estão sendo analisadas pelo jurídico da incorporadora, visando, se for o caso, à adoção das medidas legais pertinentes.
Com protestos de elevada consideração e apreço;
R. Dimer Construtora e Incorporadora Ltda.”