Com um novo empreendimento imobiliário como pano de fundo, moradores e líderes de entidades ligadas ao meio ambiente darão um abraço simbólico no Parque Estadual da Guarita, em Torres.
Marcada para o próximo dia 19, a ação já repercute. O objetivo, segundo os organizadores, é defender a preservação da paisagem na região, após o pré-lançamento do Guarita Park Home Resort.
Apresentado pela construtora R Dimer, o projeto (que obedece ao novo plano diretor do município) prevê a construção de dois edifícios residenciais de 14 andares. Eles ficarão no lugar do antigo Guarita Park Hotel (com estrutura de dois a três pavimentos). A área é na rua que passa nos fundos da praia da Guarita e ao lado do Parque de Itapeva, dois importantes redutos naturais do Estado.
Uma das vozes críticas à obra é da bióloga Lara Lutzenberger, presidente da Fundação Gaia e filha do ambientalista José Lutzenberger. Lutz foi um dos idealizadores do Parque da Guarita, na década de 1970, e inclusive dá nome oficial ao local.
— Considero o projeto um marco derradeiro para destruirmos com o que resta de encanto de Torres. Já temos ocupação excessiva com transtornos de mobilidade, marginalização e gestão inadequada do lixo e esgotos. A natureza e as trilhas da Guarita estão descuidadas e erodidas. Com esse empreendimento, tudo isso se agravará, e ainda se somará o impacto visual no parque, que fará seus morros e área minguarem de tamanho relativo e se desconectarem da paisagem maior em que se integram com o Parque de Itapeva e a Serra Geral. Não podemos permitir — afirma Lara.
Presidente da ONG Onda Verde, o biólogo Christian Linck da Luz reforça a preocupação e a importância do abraço simbólico.
— O projeto nos causou surpresa. Sabemos que o empreendimento é legal, mas nem tudo o que é legal é moral. A construtora nega, mas, dependendo de onde as pessoas estiverem, no parque, vai dar para ver os prédios. Os impactos possíveis precisam ser verificados. Isso inclui, por exemplo, a influência dos ventos, a circulação de aves migratórias e o sombreamento — destaca Luz, que também é geógrafo, mestre em Botânica, doutor em Geografia Ambiental e consultor na Secretaria Executiva do Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio Mampituba.
À frente da Associação dos Surfistas de Torres (AST) e da Liga Rio-grandense de Surf, José Ricardo Milanez, recém-eleito vereador pelo PL, também teme a possibilidade de impactos variados.
— Não sou contra a construção civil, mas estou preocupado. Tem a questão visual, é claro, mas também existem outros fatores a levar em conta. Torres já tem problemas graves com esgoto e poluição do solo. Isso precisa ser muito bem avaliado — ressalta Milanez.
O que diz a construtora
Procurada pela coluna, a R Dimer Incorporadora e Construtora enviou nota oficial sobre o assunto. Leia a nota a seguir, na íntegra:
"A R Dimer Inc. e Construtora, possui quinze anos de atuação na construção civil, marcados, sobretudo, pelo relevante trabalho social e urbanístico desenvolvido.
Sendo responsável pelo empreendimento Guarita Park Home Resort, localizado no bairro São Francisco, na cidade de Torres/RS, ressalta que o projeto do empreendimento está de acordo com a legislação urbanística e ambiental, caracterizando-se pela sustentabilidade, excelência arquitetônica e qualidade de obra, fatores que trarão valorização, bem como benefícios sociais e de infraestrutura para o bairro e região.
A construtora, por fim, alerta para imagens e informações inverídicas que circulam nas redes sociais sobre o empreendimento, as quais não refletem a verdade acerca da sua localização e volumetria, sugerindo impacto visual que não se coaduna com as reais características do mesmo."