O céu e o Sol estão mais opacos nos últimos dias no Rio Grande do Sul – e em grande parte do Brasil. Mesmo com tempo firme e ensolarado, os dias têm sido cinzentos e nublados. O fenômeno é resultado do avanço das fumaças dos incêndios que atingem Estados brasileiros e países vizinhos como Argentina, Bolívia e Paraguai.
Monitoramento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) aponta que o Brasil registrou 159.411 focos de incêndio entre 1º de janeiro e 9 de setembro deste ano – maior marca desde 2010, quando foram registrados 163.408 focos. Os vestígios destas queimadas formaram um corredor de fumaça que circula pela atmosfera, de norte ao sul do Brasil, com riscos à saúde e impactos ao meio ambiente.
O Sol com tonalidade mais avermelhada e o céu cinza que têm chamado a atenção em diversas regiões do país, inclusive no Rio Grande do Sul, são resultado da pluma formada pela fumaça dos incêndios, fenômeno que impede a passagem íntegra de raios solares e causa um efeito de "espelhamento". A luz solar espalha-se na nuvem formada com vestígios das queimadas, há cerca de 1,5 mil metros de altitude na atmosfera, e reflete em direção ao sol, que fica com coloração mais avermelhada, especialmente ao amanhecer e ao fim das tardes.
— A coloração do Sol tem total relação com a fumaça dos incêndios. Os raios solares interagem com esse particulado presente na atmosfera, o que favorece para deixar o céu mais alaranjado, com mais evidência durante o nascer e pôr do sol, devido à inclinação dos raios. É um tipo um espelhamento — explicou o meteorologista Guilherme Borges, da Climatempo, que ressalta que o céu cinza é fumaça e não apenas um dia nublado.
Em entrevista ao Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, nesta segunda-feira (9), o meteorologista Marcelo Schneider, do Inmet, também comentou sobre a coloração do céu e do Sol. Conforme Schneider, a tonalidade "pastosa" observado nos últimos dias era fumaça presente no céu.
— É como se fosse uma película. Pelo filtro dessa poluição, o Sol fica avermelhado, pela decomposição das cores do arco-íris. No início do dia e no final ele fica aquele tom bem avermelhado, depois, quando ele começa a subir mais na vertical, começa a ficar aquele tom amarelado — explicou.
Ouça a entrevista do meteorologista Marcelo Schneider:
Próximos dias
O céu deve seguir acinzentando e com sol avermelhado pelo menos até 18 de setembro, projeta a Climatempo. A onda de calor que atinge parte do Rio Grande do Sul e se estende por Estados do centro-oeste e sudeste do Brasil, favorece a ocorrência de novos incêndios e, consequentemente, a circulação de mais fumaça na atmosfera.
Apesar da chegada de uma frente fria ao Rio Grande do Sul a partir de sábado (14), com previsão de chuva, a fumaça seguirá sobre o Estado. Com o tempo favorável para o cenário dos incêndios no centro-oeste e sudeste, a instabilidade no RS não será suficiente para limpar a atmosfera e a fumaça deve chegar junto com o vento que sopra do norte para o sul do Brasil.
— A fumaça não deixa nunca de se deslocar para o Rio Grande do Sul, ela não dissipa. A frente fria não consegue dar vencimento aos focos de incêndio. Chove e limpa a atmosfera, só que tem muito mais fumaça vindo e isso justamente por este cenário intensificado de calor na região central brasileira. Limpou, tem mais fumaça vindo. É a mesma coisa que você jogar um balde d 'água para limpar e no mesmo segundo voltar a sujeira — explica Guilherme Borges.