Uma série de iniciativas em curso aponta possíveis caminhos para resguardar o Pampa, que além dos campos é formado também por zonas de mata e de banhado. Uma delas é um projeto que procura fomentar a pecuária sustentável e combater outra das principais ameaças ao bioma: a proliferação de espécies exóticas como o capim-annoni, introduzido acidentalmente no país nos anos 1950.
O Pampa ganhou atenção internacional durante a COP28 realizada em Dubai, nos Emirados Árabes. Ao declarar ter descoberto somente agora que o ambiente pampiano constitui um bioma, a exemplo da Amazônia ou do Cerrado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ilustrou o fato de que muitos brasileiros desconhecem que os campos sulistas têm alta relevância ecológica. A falta de uma maior conscientização sobre seu papel ambiental também explica por que é o ecossistema com o maior nível de ameaça em todo o país atualmente.
O Projeto de restauração ambiental Restaurapa, promovido pela Emater/RS e pelas universidades LaSalle e UFRGS implementa ações para eliminar o annoni e reavivar a vegetação nativa — o que reconstitui o bioma, aumenta a produtividade das criações de gado e reduz o impacto ambiental.
— O capim-annoni é uma espécie africana que vai substituindo o campo nativo. Embora seja produtora de biomassa, é muito fibrosa e substitui a diversidade rica e mais nutritiva para os herbívoros. Por ser muito dura, chega a desgastar os dentes dos animais — afirma o extensionista rural da Emater/RS em Santana do Livramento Leonardo Alonso Guimarães.
Na região de Livramento, uma dezena de propriedades incluídas no projeto (financiado via Banco Interamericano de Desenvolvimento e Fundo Brasileiro para a Biodiversidade, o Funbio) colocam em prática um conjunto que prevê sete medidas diferentes, que podem ser utilizadas conforme a situação em cada fazenda. Elas incluem manejo do campo, evitando a sobrecarga de animais em uma determinada área, rodízio entre pastagens, aplicação de herbicida para eliminar exclusivamente o annoni e plantio de sementes colhidas no próprio local de espécies nativas.
O serviço de aplicação de herbicida e coleta de sementes utiliza equipamentos específicos para essas atividades desenvolvidos em solo gaúcho. Uma das propriedades beneficiadas pela iniciativa é a Estância dos Angicos, do produtor rural Anderson Bayon, 55 anos.
— O capim-annoni foi tomando a propriedade de fora para dentro, fazendo desaparecer o pasto nativo. Mais da metade do campo foi tomado pelo annoni. Agora, é possível perceber a vegetação nativa voltando. Os animais precisam comer menos para se saciar, e os dentes não desgastam tanto — afirma Bayon.
No campo da propriedade, o annoni já aparece amarelado, enquanto o pasto nativo típico do Pampa volta a recuperar parte do terreno perdido.
Soluções para o Pampa
Equilíbrio entre atividades
Hoje o campo nativo recua, enquanto atividades como agricultura e silvicultura seguem ganhando terreno. Especialistas defendem um maior equilíbrio entre os diferentes usos do solo.
Estímulo à pecuária sustentável
A pecuária, com manejo adequado (evitando sobrecarga de animais em uma determinada área, por exemplo) é considerada uma atividade econômica adequada ao Pampa, com preservação do ambiente nativo.
Combate a espécies invasoras
A proliferação de espécies exóticas de rápida disseminação, como o capim-annoni, suprime a vegetação nativa e reduzem a biodiversidade. Há iniciativas capazes de conter o avanço dessas espécies, como um projeto desenvolvido por UFGRS, LaSalle e Emater/RS na Fronteira Oeste.
Aumento de unidades de conservação
Hoje, o Pampa é o bioma menos representado entre as áreas de preservação de todo o país. Uma forma de aumentar a proteção do ecossistema é estabelecer uma maior quantidade de unidades de conservação.
Legislação específica
O professor da UFRGS Gerhard sustenta que “até hoje, não existe legislação específica de proteção do bioma, diferente do que ocorre com a Mata Atlântica”.
— O Pampa tem uma baixíssima cobertura de unidades de conservação, tornando o mais vulnerável às perdas da vegetação nativa, e programas importantes como o Programa de Recuperação Ambiental (PRA), que deve tratar da restauração ecológica de áreas degradadas, não são implementadas — complementa o especialista.