O desabamento de um prédio no bairro Três Pinheiros, assim como rachaduras no solo que motivaram a interdição de 23 casas do bairro Piratini, em Gramado, suscitaram dúvidas e apreensão entre os moradores desde o dia 19. Segundo o Centro de Sismologia da Universidade de São Paulo (USP), os fenômenos recentes não foram causados por possíveis tremores de terra. A mesma conclusão de um relatório técnico sobre a região, divulgado pela prefeitura nesta quarta-feira (29).
O documento, assinado por uma empresa de engenharia e geotecnia, confirmou que movimentos de massa, ocasionados pelas fortes chuvas dos últimos meses, causaram a queda do Residencial Condado Ana Carolina, na Rua Ladeira das Azaleias, no bairro Três Pinheiros. Sendo assim, está descartada a ação de eventuais abalos sísmicos na região, como ocorreu em 2020, quando moradores de Gramado relataram tremores repetidos entre agosto e setembro.
Na ocasião, a prefeitura solicitou ao Centro de Sismologia da USP que se instalassem duas estações sismográficas temporárias na cidade a fim de monitorar o problema. As análises da época, a cargo do professor Marcelo Assumpção, concluíram que os pequenos tremores foram induzidos pela perfuração inicial de um poço muito profundo.
— Os tremores de terra são causados por grandes pressões geológicas que ocorrem na crosta terrestre a várias centenas de metros ou quilômetros da superfície. Nestas áreas, não há influência das mudanças climáticas — diz o especialista.
Situações diferentes
No caso dos poços perfurados em Gramado, em 2020, conforme o professor, houve uma conexão entre um aquífero superior (nas camadas mais rasas da superfície) e um aquífero mais abaixo.
— Isso faz com que a água penetre no aquífero inferior, causando uma pressão. Em alguns casos muitos raros, por sinal, este movimento pode provocar pequenos tremores, como os ocorridos há três anos — esclarece o professor da USP.
Desta vez, no entanto, o departamento nem chegou a ser acionado pelo município serrano. Segundo Assumpção, abalos sísmicos não se manifestam esteticamente por meio de rachaduras, como as identificadas em 2023.
— Fica tudo escondido a quilômetros a metros abaixo da superfície. Pela aparência do solo, se fosse um tremor de terra, teria sido um terremoto de magnitude 6 ou 7 na escala Richter, sentido até em Porto Alegre. No Brasil, não passam de 2 a 3 — explica o professor, que não teve acesso ao relatório da prefeitura, mas concorda com as diferenças citadas.
Segundo ele, tremores são fenômenos rápidos e que raramente deixam “trincas”, como a percebida, por exemplo, no entorno do prédio de cinco andares que desabou na semana passada. Já as rachaduras, esclarece Assumpção, se formam de maneira mais lenta a partir de deslocamentos de terra típicas de deslizamentos, que também aconteceram em Gramado.
Apenas a universidade paulista mantém sismógrafos no Rio Grande do Sul. Os outros ficam em Canela, Caçapava do Sul e Itaqui. Nenhum identificou tremores em Gramado em 2023.
Moradores voltando para casa
O relatório divulgado pela prefeitura de Gramado dividiu a região de Três Pinheiros, em três áreas (confira lista abaixo). Nas áreas de baixo risco, a população já está retornando para casa. Nas áreas consideradas de risco moderado, os moradores poderão voltar após a realização de ações da prefeitura para estabilização do local, previstos para começarem nesta quinta-feira (30). Não há previsão de liberação para a volta das famílias que moram nas áreas classificadas como de risco elevado.
Regiões abrangidas pelo relatório:
- Locais de baixo risco de danos: Compreende 81 edificações no bairro Três Pinheiros e duas edificações no bairro Planalto.
- Locais de risco moderado de danos: Compreende 30 edificações do bairro Três Pinheiros.
- Locais de risco elevado de danos: Todo loteamento Don Felipe, uma edificação no bairro Planalto e 15 edificações no bairro Três Pinheiros.