O fotógrafo gaúcho Gabriel Zaparolli, 22 anos, registrou, na costa do Rio Grande do Sul, na madrugada de terça-feira (27) uma descarga atmosférica difícil de ser capturada em imagens, conhecida como sprite. As fotos do fenômeno, que foram compartilhadas por ele nas redes sociais, logo chamaram a atenção dos internautas e viralizaram.
O sprite foi registrado durante uma tempestade em alto mar, a cerca de 413 quilômetros de Torres, no Litoral Norte, por volta das 2h da manhã de terça-feira. Segundo Zaparolli, essa distância foi adequada para proporcionar uma observação do evento que ocorre acima dos topos das tempestades mais fortes.
Um dos diferenciais das fotos é que elas foram capturadas em cores. Até então, o fotógrafo só havia registrado esses eventos em preto e branco, com câmeras de modificação de infravermelho.
— Levei cerca de cinco anos para conseguir esse feito de registrar um dos fenômenos mais belíssimos, difíceis de registrar, sem um equipamento específico, e agora consegui realizar esse feito marcante para mim com a ajuda do meu amigo, Diego Machado, que tinha uma câmera com ISO ótimo (número que descreve a sensibilidade à luz de um sensor de câmera digital) e lente com abertura boa para captura desses sprites — contou o gaúcho, sobre os bastidores do trabalho.
Segundo Gabriel, assim que terminaram de fotografar o evento, ele e seu amigo foram ver, no visor da câmera, as imagens, e ficaram impressionados com o resultado.
— Quando vimos as capturas, ficamos encantados com a beleza da coloração de um sprite vermelho e seus formatos que são variáveis. É como marcar um gol na final da Copa do Mundo, onde todo mundo vibra — comparou.
Agora que uma de suas metas foi concluída, Gabriel pretende continuar produzindo fotos de eventos atmosféricos e registrar outras belezas celestes.
— No momento, quero investir num equipamento melhor para poder trazer esses Eventos Transientes Luminosos (manifestações elétricas luminosas de curta duração que ocorrem nos altos níveis da atmosfera, entre a estratosfera e a termosfera) com mais qualidade e para todos admirarem esse evento belíssimo da nossa Terra.
O que são sprites?
A palavra sprite é um acrônimo para Stratospheric/Mesospheric Perturbations Resulting from Intense Thunderstorm Electrification (Perturbações Estratrosféricas/Mesosféricas Resultantes de Eletrificação de Tempestade Intensa, em português).
Segundo definição da Organização Meteorológica Mundial (WMO, na sigla em inglês), a palavra compreende um evento luminoso transitório (TLE, para os norte-americanos) que ocorre acima da troposfera e da estratosfera, em uma camada chamada mesosfera (acima de 50 quilômetros de altitude).
— A atividade elétrica das tempestades formam descargas elétricas positivas de formatos variados na região entre a nuvem e a superfície. Isso cria um desequilíbrio de cargas elétricas na nuvem, que para compensar a perda de cargas na atmosfera próxima da superfície, aparece na camada superior uma descarga elétrica emitindo luz e formando, assim, o fenômeno — explicou Vagner Anabor, professor doutor e coordenador do Programa Pós-Graduação em Meteorologia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
Como os sprites estão relacionados com a atividade elétrica das tempestades, toda vez em que se avistam raios ou se ouvem trovões, há grandes chances de que esse fenômeno esteja ocorrendo na atmosfera superior. A melhor visualização para esse evento atmosférico é durante a noite e com uso de câmeras especiais e adaptadas para a captação.
— São realmente eventos raros, captados somente por fotografias de alta sensibilidade, acima das nuvens de tempestade — enfatizou Marcelo Schneider, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).
Quando vistas em fotografias, as descargas podem aparecer com diferentes tonalidades, que variam entre o laranja e o vermelho e tons de azul e verde.
— As cores estão relacionadas com os gases rarefeitos presentes na alta atmosfera, meio pelo qual a descarga elétrica passa causando transições eletrônicas nos átomos destes gases e emitindo fótons com frequência típica de determinada luz — afirmou Anabor.
Os primeiros registros desse evento atmosférico foram feitos, de forma acidental, em 1989, por pesquisadores da Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos, que manuseavam uma câmera de vídeo. Esse evento é mais incidente em regiões do mundo onde ocorrem as tempestades mais intensas e com frequência de descargas elétricas, como é o caso do sul da América do Sul e em toda a área da bacia do Prata, que abrange áreas argentinas, bolivianas, brasileiras, paraguaias e uruguaias.
O fotógrafo
Gabriel Zaparolli é natural de Torres. Aos 13 anos ele começou a produzir suas primeiras fotografias. A paixão pela área fez com que se dedicasse ao ramo e se tornasse, em 2017, um fotógrafo profissional. O gaúcho é fascinado pelo céu e seus mistérios e, em razão disso, muito dos seus trabalhos são sobre esse tema.
— Comecei dando inicio em 2016 na Bramon (Rede Brasileira de Monitoramento de Meteoros), onde capturava meteoros para descobrir seus radiantes e possíveis quedas em solo. E, em 2017, decidi elevar meu nível de fotografia e começar a praticar caça as tempestades, astrofotografia e fotografia de surf — relembrou.
Desde 2016, Zaparolli tem se dedicado a fotografar sprites com câmeras especiais modificadas para a captura desses eventos. Atualmente, ele trabalha vendendo suas fotografias no formato impresso e digital para pessoas de todo o Brasil e até para o Exterior.
— O que me motivou seguindo na fotografia foi o desafio e complexidade de conseguir fotos "impossíveis" e bonitas da cidade de Torres e região, onde eu conseguia um misto de mescla de tempestades, paisagens e estrelas — falou, sobre a motivação do seu trabalho.
O profissional também tem se dedicado às redes sociais, onde divulga suas fotografias. No Instagram, ele conta com distintos perfis para mostrar as diferentes facetas do seu trabalho, como quadros, impressões de registros de meteoros e acontecimentos nos céus.
— Sempre que me perguntam como é ser fotografo eu digo: "Olha, no começo pode parecer difícil, mas com determinação e foco, você consegue se destacar dos outros, faça o diferente e veja os resultados!" — aconselhou.
Veja outros trabalhos do fotógrafo gaúcho:
Produção: Filipe Pimentel
