O fotógrafo alemão Boris Eldagsen, 51 anos, venceu, em março deste ano, a categoria "melhor fotografia criativa" do famoso concurso Sony World Photography Awards, com a imagem intitulada Pseudomnesia: The Electrician (Pseudoamnésia: O Eletricista, em português), que mostra, em preto em branco, duas mulheres de diferentes gerações. No entanto, o artista recusou o prêmio, com a justificativa de que não achava certo aceitar esse reconhecimento por um trabalho que ele produziu inteiramente com uso de inteligência artificial (IA). Com informações do The Guardian e da BBC.
Na última sexta-feira (14), após o aumento das polêmicas e discussões em torno da recusa do prêmio, Eldagsen se manifestou, em uma publicação em seu site oficial, sobre o caso. "Eu competi para provocar, para saber se as competições estão prontas para a chegada da IA. Não estão", concluiu.
Ainda segundo o alemão, seu objetivo era promover um debate aberto em torno do uso da inteligência artificial na área artística. "Uma discussão sobre o que queremos considerar fotografia e o que não. O guarda-chuva da fotografia é grande o suficiente para convidar imagens de IA a entrar – ou isso seria um erro? Com minha recusa ao prêmio, espero acelerar esse debate", acrescentou.
O fotógrafo também ressaltou que essa foi a primeira vez que uma fotografia gerada com IA ganhou um importante prêmio internacional na área da fotografia. "As imagens de IA e a fotografia não devem competir entre si em um prêmio como este. São entidades diferentes. IA não é fotografia. Portanto, não aceitarei o prêmio", concluiu.
Em entrevista a BBC, na segunda-feira (17), Boris contou que após o anúncio de que havia vencido uma das categorias do concurso, ele chegou a sugerir doar o prêmio para um festival de fotografia realizado em Odesa, na Ucrânia.
O que diz o concurso
Um porta-voz da Organização Mundial da Fotografia, que é a responsável por validar os trabalhos inscritos, informou ao The Guardian que Eldagsen havia confirmado, antes de ser anunciado como vencedor, que seu trabalho tratava-se de uma co-criação que contou com o uso da IA e esclareceu que a comissão avaliadora da premiação sabia dessa informação antes de julgar as produções artísticas.
Ainda segundo o representante da instituição, que não teve o nome revelado, a categoria vencida por Boris admitia fotografias experimentais, desde cianótipos e radiografias até práticas digitais de última geração, como as produzidas com IA.
— Após nossa correspondência com Boris e as garantias que ele forneceu, sentimos que sua inscrição preenchia os critérios para esta categoria e apoiamos sua participação — argumentou o porta-voz ao veículo britânico.
O representante também informou que a organização estava disposta e ansiosa para debater o tema por considerar seu caráter urgente e atual, mas que diante das recentes declarações de Boris e à sua tentativa de enganar a comissão, acredita que não haverá diálogo possível com ele.
— Dadas suas ações e declaração subsequente observando suas tentativas deliberadas de nos enganar e, portanto, invalidar as garantias que ele forneceu, não sentimos mais que somos capazes de nos engajar em um diálogo significativo e construtivo com ele — acrescentou.
Em um comunicado, um representante da Sony World Photography Awards esclareceu, que a pedido do artista, a obra foi retirada da competição.