Era para julho ter feito os gaúchos tremelicarem de frio, mas terminou com gente andando de mangas curtas por aí. Isso porque um bloqueio atmosférico atuando na região central do Brasil impediu que massas de ar polares entrassem com toda a força no Rio Grande do Sul, o que abrandou o inverno.
Esse bloqueio atmosférico, explica o meteorologista Rogério Rezende, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), é um sistema de alta pressão que faz o ar circular no sentido contrário aos ponteiros do relógio. Esse movimento acabou trazendo um ar mais quente e seco que vem do centro do país, enquanto os ventos gélidos ficaram nos países vizinhos.
— O ar frio ficou, basicamente, no Uruguai e na Argentina. Para nós aqui no Rio Grande do Sul, sobrou chuva na metade sul e temperaturas mais altas. Já na metade norte do Estado, praticamente não teve chuva — diz.
Na metade sul do Estado, as temperaturas variaram de 1,5 graus a 3,5 graus acima do padrão do mês, enquanto na metade norte a oscilação foi um pouco maior, de 2,5 graus a 4,5 graus acima do padrão.
Já Porto Alegre viveu o julho mais quente dos últimos quatro anos, aponta a meteorologista Andrea Ramos, também do Inmet. A média da temperatura máxima foi de 22,4°C, 14% acima do esperado para o mês, que é de 19,6°C. Em 2021, a média de julho foi de 20°C; em 2020, de 19,3°C; em 2019, de 19°C; por fim, em 2018, de 18°C.
— Julho de 2022 foi o mais quente em Porto Alegre quando comparado aos últimos quatro anos. Agora, 2017 registrou um mês de julho ainda mais quente, porque a média foi de 23,8°C em Porto Alegre. Estamos tendo aumento gradual das temperaturas. Neste julho de 2022, a variação foi de dois a três graus acima da climatologia. Esse bloqueio atmosférico foi mais forte que o La Niña, que deslocou as frentes frias para a região leste do Sul do Brasil, e daí em direção ao oceano — explica.
Para o Estado, a previsão era que ao menos três ondas de frio atravessassem julho, inclusive provocando geada e neve. Mas a temperatura subiu bastante em alguns dias, aproximando-se dos 30°C em boa parte do Estado, como ocorreu na terceira semana do mês. A mínima, segundo as estações do Inmet, foi de -0,1°C, registrada em São José dos Ausentes, na Serra, no dia 13.
Fez mais frio nos meses anteriores. No dia 11 de junho, São José dos Ausentes registrou -3,6°C, a temperatura mais fria do ano até agora no Estado, e no dia 31 de maio, Bom Jesus, também na Serra, marcou -2.
Para agosto, espera-se que os bloqueios atmosféricos sejam menos duradouros, de forma que o frio possa se avizinhar dos gaúchos antes que chegue a primavera. De acordo com a meteorologista Noele Brito, da Climatempo, ainda não se descarta geada e, embora seja mais difícil de acontecer, até mesmo neve.
— A tendência é de que os bloqueios atmosféricos não sejam tão duradouros quanto foram em julho. Aí, a expectativa é que haja mais entradas de ondas de frio em agosto, inclusive com chance de temperaturas mais baixas do que julho — diz.