O frio não afastou o morador de Torres Osvaldo Raupp da beira da praia, onde foi fazer uma das coisas de que mais gosta na manhã desta quinta-feira (1°): fotografar baleias. É justamente no inverno que esses animais podem ser vistos com mais frequência no litoral gaúcho, época em que migram da Antártica para se reproduzir em águas menos geladas.
A baleia das imagens é uma jubarte, espécie menos frequente no Rio Grande do Sul do que a franca, uma velha conhecida dos banhistas. De acordo com o biólogo Maurício Tavares, do Centro de Estudos Costeiros, Limnológicos e Marinhos (Ceclimar), a população de jubartes cresceu quando a caça às baleias foi proibida no Brasil no fim dos anos 1980.
— As duas espécies estão em recuperação populacional. Este ano já tivemos várias avistagens de jubarte. A população delas ficou tão grande que a gente tem que parar para olhar se é a baleia é franca ou jubarte — reforça o biólogo.
Segundo ele, as grandes baleias costumam fazer migrações justamente no inverno. Alimentam-se durante o verão na Antártica e ficam durante alguns meses estocando energia. Depois, "sobem" para onde é menos frio, a fim de se reproduzirem.
A jubarte registrada por Raupp se banhava na região mais ao sul de Torres, entre as praias de Santa Helena e Webber. Na tarde desta quinta-feira, o morador seguia na beira da praia mirando as baleias.
— As pessoas vêm para as dunas para poder enxergar de uma posição melhor. Um vai avisando o outro. É muito lindo, até emocionante. Agora estou falando contigo e olhando para o mar. Ela está longe, respirando — disse ele, no celular.
Diferentemente dos veranistas, Raupp prefere o litoral gaúcho nesta época em que o vento bate forte e não há ninguém de calção ou biquíni na beira da praia.
— Todo mundo gosta do litoral no verão. Eu fico mais ansioso aguardando o inverno por causa das baleias. Elas dão saltos sensacionais, parece olimpíada — diz o morador.
Saiba como diferenciar a baleia jubarte da franca
Há duas espécies de baleia muito comuns no litoral do Rio Grande do Sul: a franca e a jubarte. A primeira é mais costeira, gosta de se aproximar, por isso é vista com frequência pelos banhistas, inclusive aparecendo morta na areia. Já a jubarte fica mais para dentro do mar, prefere águas mais profundas.
Mas há outras formas de distinguir uma da outra, de acordo com o biólogo Maurício Tavares. Quem tiver binóculos, deve ficar atento às características dos corpos dos animais. A jubarte tem nadadeira dorsal, que fica nas costas. É uma nadadeira como a dos tubarões e do golfinhos, de formato meio triangular. Já a franca não tem nadadeira dorsal — é a única entre as espécies do Brasil sem esse tipo de nadadeira.
Outra diferença para saber se é franca ou jubarte: a primeira nasce com calosidades na região da cabeça. Quando fica mais velha, essas calosidades, que parecem caroços, ficam cheias de invertebrados, animais que vão se fixando ali, principalmente piolhos-de-baleia.
Mais dicas: a nadadeira peitoral da franca é em formato de trapézio, mais curta, quadrangular. Já a nadadeira peitoral da jubarte é bem comprida, longa — é a baleia com a maior nadadeira em relação ao tamanho do corpo.
— A nadadeira da jubarte tem um terço do tamanho do corpo dela. Foi assim que consegui identificar a jubarte nessas fotos e vídeos enviados pelo morador — conta Tavares, dono do canal do YouTube Fauna Marinha RS.
Por fim, uma peculiaridade que vai ajudar os admiradores desses bichos: ao respirar, a baleia franca solta um borrifo em formato de "V", o que não é tão fácil de ver, vai depender da umidade do ar.
Onde avistar baleias no litoral gaúcho
Na transição do outono para o inverno já é possível flagrar as baleias se banhando nas águas do Litoral Norte. A franca é a que se tem mais chance de ver, principalmente entre agosto e setembro, porque ela fica mais tempo na costa. Já a jubarte apenas passa pelo nosso litoral e vai em direção ao norte do país.
Um ponto ideal para observar esses animais é o Morro do Farol, em Torres. Dá para subir de carro e aguardar no mirante lá em cima. Já em Atlântida, Tramandaí e Cidreira, a pessoa pode ir nas plataformas de pesca, que têm boa altura e se projetam para dentro do mar.
— Se a pessoa estiver numa plataforma de pesca e o bicho salta, vai render fotos lindas — orienta o biólogo.