Autoridades paraguaias identificaram, no país, uma nuvem de gafanhotos semelhante à que, no fim de junho, se formou na Argentina e chegou próxima às fronteiras com o Brasil, motivando o governo brasileiro a, na ocasião, declarar estado de emergência fitossanitária no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. Embora não representem um risco direto para os seres humanos, esses ortópteros saltadores podem, em grupo, causar grandes prejuízos econômicos, devorando plantações em questão de horas.
Segundo o Serviço Nacional de Qualidade e Saúde Vegetal e de Sementes (Senave) do Paraguai, até a tarde de quarta-feira (15), milhares de gafanhotos da espécie schistocerca cancellata (também chamada de gafanhoto migratório sul-americano) se encontravam próximos ao Parque Nacional Defensores del Chaco, a cerca de 300 quilômetros das fronteiras com o Brasil e a Argentina.
A possibilidade de os gafanhotos se deslocarem para outras regiões colocou não só os técnicos do Senave paraguaio "em vigilância permanente", mas também motivou o Serviço Nacional de Saúde e Qualidade Agroalimentar (Senasa) da Argentina a reforçar o pedido para que produtores rurais e a população em geral alertem às autoridades sanitárias locais caso avistem os animais.
No Brasil, o Ministério da Agricultura confirmou ter recebido dos técnicos paraguaios informações sobre a segunda nuvem de gafanhotos. A pasta informou que está monitorando a situação, mas que, no momento, não há como prever o comportamento dos animais, pois isso depende de uma série de fatores climáticos.
"No momento, as condições meteorológicas não são favoráveis à sua entrada no Brasil e, por isso, ainda não é necessário estabelecer uma emergência fitossanitária para essa nuvem", sustenta o ministério, revelando que ocorrências do tipo já vêm sendo monitoradas por especialistas de diversos países sul-americanos desde 2015. Além disso, desde 23 de junho, quando foi emitido o alerta em decorrência da primeira nuvem, também os Estados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Paraná estão mobilizados para, se necessário, adotar as medidas de controle cabíveis.
Fenômeno antigo
Embora o surgimento de nuvens de gafanhotos tenha voltado a ganhar destaque quando a situação na Argentina ameaçava transpor as fronteiras do Brasil e do Uruguai, o fenômeno é antigo na região. Segundo o Senasa, há muito tempo os argentinos convivem com um espantoso número de gafanhotos migratórios sul-americanos. Durante a primeira metade do século 20, a espécie "foi a praga mais prejudicial" para o setor agropecuário do país, "causando significativas perdas econômicas em cultivos e campos naturais de amplas regiões" do país.
Mesmo com esse histórico, em 2017, especialistas se surpreenderam com o que classificaram como uma nova "explosão demográfica dos gafanhotos". Isso motivou a aprovação do Protocolo Interinstitucional de Gestão de Informações - o que não impediu que, dois anos depois, a Argentina tivesse que decretar emergência regional frente aos milhares de insetos provenientes do Paraguai.
Na quinta-feira (16), a Senasa informou que continua acompanhando milhares de animais que faziam parte da nuvem que se formou em junho e que, agora, estão agrupados próximos à cidade de Curuzú Cuatiá, a cerca de 100 quilômetros de Uruguaiana. De acordo com o órgão, os gafanhotos estão em uma área de difícil acesso e, nos últimos dias, têm se deslocado pouco, devido às baixas temperaturas.