Poças d’água congelaram, portões de madeira esbranquiçaram e os campos em São José dos Ausentes mudaram de cor no amanhecer deste domingo (4). Por volta das 6h30min, o termômetro da área central da cidade dos Campos de Cima da Serra acusava -1,5ºC.
Nas estradas de terra, quem não conhece geada poderia confundir com sal espalhado pelo chão. Em alguns pontos, o gelo acumulou em até 5 centímetros, formando desenhos cristalizados. Os únicos que pareciam não se importar com a friaca eram os cães, guardiões de praticamente todas as casas da cidade. Alguns, caminhavam tranquilamente no meio do gelo.
Na rua, o único morador da cidade que aventurou-se no frio às 7h não era um gaúcho. Baiano de nascimento e paraense de coração, como disse, o segurança Solicio Ferreira Silva, 60 anos, caminhava encolhido na Avenida Ismenia Batista Ribeiro Velho depois de ter deixado a esposa no trabalho. Com os olhos lacrimejando por conta do frio, ele fez questão de salientar, Silva voltava pra casa. Há 14 anos, ao lado da mulher e dos três filhos, o segurança deixou o Norte rumo ao Rio Grande do Sul, em busca de emprego e educação.
– Nos mudamos no verão, quando disseram que era mais quente. Cheguei de camisa de tergal e sambei fora de época com os 20ºC que estava em pleno janeiro. Era muito frio para mim, que vinha de um lugar quente. Nunca nos acostumamos de vez com o frio, mas gostamos muito daqui – conta Silva, que formou-se em Teologia e faz pós-graduação em Gestão de Trabalho Pedagógico.
No Estado, Silva conheceu o fogão à lenha e o aquecedor, itens hoje indispensáveis para a família que já morou em Igrejinha, São Francisco de Paula e Parobé até chegar a Ausentes em agosto do ano passado. Apesar de estar morando na cidade considerada a mais fria do Estado, ele não pretende deixá-la. A meta é prestar concurso público.