Um visitante incomum deu as caras — ou as barbatanas — no Litoral Norte na tarde de terça-feira. Maior peixe do mundo, podendo chegar a 20 metros de comprimento, o tubarão-baleia foi filmado por uma equipe da Brigada Militar durante voo de helicóptero pela orla. As imagens foram feitas por volta das 18h, próximo à Plataforma de Atlântida, em Xangri-lá.
O sargento Ricardo Almada, tripulante operacional do batalhão de aviação da BM, conta que, em um primeiro momento, a equipe imaginou se tratar de um boto. O animal estava a cerca de 700 metros da faixa de areia:
— Vimos a barbatana e, na hora, o capitão verificou que podia ser o tubarão-baleia — disse.
Professor de Zoologia do Centro de Estudos Costeiros, Limnológicos e Marinhos (Ceclimar) da UFRGS, Ignacio Moreno analisou as imagens e confirmou que se tratava de um tubarão-baleia — a coloração é bem característica, com o dorso e as laterais escuros, em tons cinza, azul e marrom, com pintas brancas ou amareladas e listras pálidas verticais. Moreno relata que a espécie — cujo nome científico é Rhincodon typus — tem hábitos tropicais e distribui-se ao longo da costa brasileira, mas é incomum encontrá-lo no mar gaúcho.
Segundo o professor, o tubarão-baleia é um animal grande e "totalmente pacífico", que se alimenta pela filtragem de microorganismos aquáticos (plâncton). Justamente por isso, é muito prejudicado com a incidência de microplástico na água, além da degradação do seu hábitat e da mortalidade em redes de pesca.
Para se alimentar de organismos planctônicos, o tubarão-baleia nada na posição horizontal junto à superfície, abrindo e fechando a boca, que pode chegar a 1m50cm de largura. Milhares de pequenas cerdas existentes na região da faringe funcionam como uma espécie de peneira, que retém organismos acima de 2 milímetros de diâmetro. Calcula-se que o tubarão-baleia filtre cerca de 6 mil litros de água por hora quando está se alimentando.
Conforme o oceanólogo Joaquim Neves da Silva Ribeiro, também do Ceclimar/UFRGS, o registro do tubarão-baleia no Estado remete à necessidade da conservação de tubarões e raias — como o tubarão-martelo, o cação-anjo e a raia-viola, que estão igualmente ameaçados de extinção — no Litoral Gaúcho.
— O termo genérico "cação" é empregado popularmente para se referir a tubarão. Logo, as duas designações se referem ao mesmo grupo de organismos. Dessa forma, é preciso que o consumidor esteja atento e evite comprar espécies ameaçadas na peixaria para desincentivar a pesca predatória.