Difícil olhar para a faixa de areia e não ver um deles. Companheiros tão fiéis de veranistas quanto os guarda-sóis, os celulares dividem espaço com cadeiras, óculos escuros e protetor solar como integrantes essenciais de um dia na praia. Mas não seria a beira da praia justamente o momento de se desligar dos celulares, já que os aparelhos trazem tudo o que se associar ao dia a dia na cidade, como mensagens, agenda, despertador, compromissos?
— Deixar o celular de lado é complicado. Muito do que a gente precisa está aqui — justifica o professor universitário Avelino Zorzo, que dividia a atenção entre o aparelho e a praia durante as férias em Imbé.
Zorzo logo explica o porquê de manter o celular por perto: há trabalhos acadêmicos a orientar e e-mails importantes para ler mesmo que ele não esteja em horário laboral. E a filha, que ficou em Porto Alegre, acabara de avisar, por meio de mensagem, que chegaram correspondências em casa — algumas delas eram boletos.
— Não tem como escapar deles nem na praia, né? — explica o professor.
E tem quem jure que leva o celular para a praia só por garantia, porque "vai que alguma coisa aconteça". Mas como ele está ali, sempre por perto, muitos não resistem a uma espiadinha.
— A gente usa mais para fazer fotos — diz Júlia Bianchini, 13 anos, entre uma selfie e outra.
Seu pai, Rui Silva, e sua mãe, Juliana Bianchini, moradores de Santiago, na Região Central, realmente resistiram à vontade de levar o aparelho para a beira da praia — algo que não aconteceu com a sobrinha deles, Lídia, 12 anos. Assim como Júlia, ela volta e meia pegava o celular para registrar algumas imagens com a família na praia e enviá-las para um grupo que inclui os demais parentes no WhatsApp.
Rui conseguia manter distância dos compromissos, pelo menos durante algumas horas de descanso na beira da praia, mas Juliana confessa que o fato de não levar o celular não se deve exatamente à ideia de afastar os pensamentos das coisas da cidade.
— Só não trago porque meu celular não é muito bom — explica Juliana.
Os "tijolões" de outros verões
A onipresença do aparelho atualmente, mesmo na beira da praia e durante as férias, pode tornar difusa a memória de que sua utilidade não era assim, tão irrestrita, em um passado recente. Há 25 anos, Zero Hora registrava imagens de alguns dos primeiros gaúchos que levavam um telefone portátil para a beira da praia.
O aparelho, com fio e uma bateria pesada e pouco duradoura que precisava ser levada em uma espécie de mala de mão, tinha sinal precário, ainda mais na areia, e custava caro — na época, durante o verão de 1993, cerca de US$ 800. Certamente atraía olhares curiosos, se não desconfiados — algo muito diferente de hoje, em que o estranho é não ter um celular por perto.
De lá para cá, não só o tamanho e a portabilidade, mas também as funções do celular mudaram bastante. Se tão somente completar uma ligação era difícil no início da década de 1990, hoje é possível transmitir imagens em alta definição ao vivo, comunicar-se em tempo real com quem está em praticamente qualquer lugar do mundo, acessar a internet para pesquisar o que for, utilizar uma infinidade de aplicativos para saber qual a previsão do tempo, como está o trânsito, o que os amigos estão fazendo, quais são as notícias mais recentes da cidade onde se está ou de onde se veio.
Hoje aposentados, Denise e Odair Müller Toledo, moradores de Parobé, sabem bem das facilidades — e também das armadilhas — trazidas pela tecnologia. Há alguns anos, a comunicação era feita principalmente com o telefone de casa. Agora, tiram fotos, mandam mensagens e perguntam no grupo da família como estão os netos.
— Mas não dá para deixar de curtir a praia! Por isso a gente controla o uso. Aqui na beira do mar, é só para falar com os filhos, saber como estão e mostrar que estamos aproveitando — diz Denise, que passa as férias com o marido em Imbé enquanto os filhos trabalham em Novo Hamburgo.
Para Jenifer Luana, 17 anos, a faixa de areia de Imbé também é local para manter o contato com amigos, mesmo aqueles com quem ela conversa todos os dias.
— A gente mora na mesma cidade e sempre se fala. Mesmo tomando sol, troco mensagens com o pessoal o tempo todo.
Há quem ache todo esse uso do celular algo que não combina com a beira da praia. Alexandre Silveira e Priscila Fontoura, que saíram de Porto Alegre para passar as férias no Litoral Norte, querem distância do aparelho na faixa de areia.
— Quando saímos para ir à praia, o celular fica em casa ou, no máximo, no carro. Se a gente foca toda a atenção nele, acaba não aproveitando a praia. Nas férias, não dá para continuar mantendo a mesma rotina da cidade — diz Alexandre.
Cuidados com os eletrônicos na praia
O sol, a areia e a água são uma ameaça à durabilidade dos aparelhos eletrônicos. Por isso, se vai levá-los para a praia, confira dicas para conservar o seu aparelho.
Proteja o aparelho com uma capa impermeável
Ainda que na bolsa, conserve o aparelho dentro de uma capa impermeável. Há diversas opções transparentes no mercado (não precisa ser aquele neoprene usado nas roupas de surfe).
Smartphone não toma sol
Evite expor o aparelho ao sol. O aumento da temperatura causa superaquecimento que pode resultar na "morte" do telefone.
Cuidado com a água
Deu aquele mergulho na água e quer publicar a foto para os seus amigos curtirem? Limpe bem as mãos antes para que as gotas não respinguem no aparelho. Não custa tomar cuidado mesmo com aqueles celulares que são resistentes à água.
Touchscreen também "descasca"
Quando for utilizar o celular na beira da praia, tenha cuidado com os grãos de areia. Eles podem arranhar a tela, especialmente em dispositivos touchscreen.
Primeiros socorros depois de um "mergulho"
Evite ligar o aparelho imediatamente após o mergulho involuntário e tente retirar todo o excesso de água com uma flanela. Procure uma assistência técnica, onde é utilizado um produto para realizar a secagem das partes internas do aparelho.